Dias chuvosos

Ai, a nomenclatura da chuva parece-nos irrefutável na recâmara do incognocível... como tolher no tato da alma (o olhar) o matema elementar das gotículas pusilâmines? Nenhuma lenda arrisca conjecturar a origem da chuva, nenhum deus mitológico fragmenta-se em aljôfares, mas sendo em-si e para-si Uno-indivisível - uma divisão do sujeito indigesta.

... Mas à margem desse arcano segredo, subjaz o petrichó (princípio científico do odor da chuva, o tal aroma de "terra molhada); porém, a essência não reside naquilo que é explicado, pois senão se tem apenas um conceito e não o núcleo fantasmagórico que perfaz o Real - a essência da chuva está em sua aura irredutível: a canção que ela compõe, a retórica de um paraninfo emudecido que apenas emite da alma sua complacência divina, a poesia abstrata que atinge aqueles que a ouvem... ópera universal, todos a escutam, como uma música composta para cada momento, e a partitura está na clave dos desejos, no que se passa, no que transborda na alma.

Para a criança a chuva é um brinquedo, e não um banho qualquer antes da aula; - o infante sabe que na chuva o sabonete não pode limpar seu espírito ingênuo, e que o perfume não existe... o curumim sabe que a água dali não precisa de sabonete (pois como sabemos, o sabonete não é para limpar sua pele, mas sim a água podre que cai do chuveiro criado pelo ser humano).

Ai, não quero discorrer sobre a chuva... Apenas quero ser testumanho de sua glória!

Celso Júnior
Enviado por Celso Júnior em 03/10/2018
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