UM FUTURO "ENTERRADO"
 
     Esta história se passará num vilarejo sem escola pública, mas com um forte desejo de aprender a ser gente culta e responsável. Diante dessa carência, um homem de posses e talvez por isso, cheio de soberba, resolveu abrir uma escola particular e para isso, trouxe da cidade, professores capacitados e até renomados e conseguiu matricular todas as pessoas com condição de pagar as mensalidades de alto valor, ganhando então bastante dinheiro com isso.
     Havia naquele vilarejo, um garoto paupérrimo, porém curioso e de uma inteligência natural, mas não sabia ler e nutria o desejo de aprender. Quando soube da nova escola em seu vilarejo, correu para a porta e implorou ao ricaço por uma vaga, mas como os seus pais não tinham a menor condição de pagar, lhe foi negada essa oportunidade. Mesmo com a nova escola superlotada de alunos, havia total condição de abrir uma exceção para aquele garoto.
     A sala de aula tinha uma parede de vidro que dava para a rua e o garoto, todos os dias, ficava atrás dos postes de “olho comprido” vendo aqueles alunos estudando, e chorava por não ter tido a mesma oportunidade de aprender.
     O tempo passou e o garoto cresceu... Suas mãos já estavam calejadas de tantos serviços pesados, indo para a roça, executando trabalhos braçais de sol a sol. O ricaço, embora soberbo, gostava de frequentar a Missa aos domingos e era até assíduo nas celebrações, daqueles de se confessar ao pároco.
     Um belo dia, o ricaço foi à igreja disposto a fazer uma confissão. O padre do vilarejo havia sido transferido e um novo padre foi enviado para lá. Como no confessionário há uma separação entre o fiel e o padre, o ricaço nem percebeu que o padre era outro e começou a falar de sua vida e dos seus pecados, mas sequer admitiu a sua indiferença ao garoto que um dia havia lhe implorado para estudar em sua escola. Ao término da confissão, o novo padre se retirou e lá fora, ao tentar entrar em seu carro, viu o ricaço caído e desfalecido em frente ao carro da paróquia, então o padre avisou a família e chamou o coveiro do vilarejo para preparar a cova no cemitério.
     O coveiro estava doente e teve que se providenciar outra pessoa para cavar e, por ironia do destino, a pessoa que se dispôs a fazê-lo foi aquele garoto do passado, agora rapaz forte e de mãos calejadas de tantos serviços brutos, por não ter tido a oportunidade de estudar... Foi lá e escavou o buraco, onde seria enterrado aquele mesmo homem que lhe negou uma vaga em sua escola, e que jamais poderia imaginar que estaria naquele momento, negando o saber à pessoa que no futuro lhe prepararia uma cova. O rapaz não esqueceu e suas palavras foram estas: “enterrei o homem que enterrou o meu futuro”.
Fim.
Luciênio Lindoso
Enviado por Luciênio Lindoso em 20/11/2018
Código do texto: T6507249
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