Um conto de natal

Praça central de Jeremoabo, os frontispício das lojas todos ornamentados com suas luzes multicoloridas, ao lado de figuras de Papai Noel anunciavam a chegada do natal. Transeuntes passeiam felizes, algumas crianças seguiam na direção do coreto no centro da praça, onde o fabuloso Papai Noel distribuía presentes. O clima natalino invadia as ruas, as casa, e as almas das pessoas. Num canto, sentada a um banco da praça, uma solitária menina. A sua pele era alva feito algodão. O tom amarelado se seus ressecados cabelos imitavam a palha. Os seus olhos cor de mel a tudo observavam em silencio. Via as crianças correrem saltitantes para receberem seus presentes de natal das mãos do bom velhinho, e inocentemente aguarda a sua vez, que não veio.

Papai Noel já havia esvaziado o saco dos presentes, não haviam sobrado nenhum brinquedo, carrinhos, bolas, ou bonecas, todos haviam acabado! Uma lágrima escorreu por entre os olhos da pobre criança, descendo por sua face pueril até cair sobre a grama verde do jardim da praça, onde em alguns minutos depois brotaria um botãozinho de cor esverdeada. Inconformada, a menina de cabelos cor de ferrugem se dirigiu até o local onde estava o bom velhinho, e perguntou:

– Papai Noel, Papai Noel, e o meu presente? O senhor esqueceu?

– Oh minha flor, o seu papai, ou a sua mamãe mandou eu te entregar algum? – Indagou o Papai Noel, achando ter cometido algum engano, ou de ter deixado algum dos presentes na loja.

– Eu não tenho pai nem mãe. – foi à triste resposta da garota.

O ator, um homem de meia idade, vestido de Papai Noel, que representava o bom velhinho sentiu uma forte angustia invadir seu peito. Como explicar para aquela pobre menina que os presentes por ele distribuídos foram pagos pelos próprios pais das crianças?

– Bem, minha linda menina. Está vendo aquela florzinha de cor verde? – Disse ele apontando para um pequeno botão de flor que havia brotado no local em que caiu a triste lágrima da garotinha – Não é esquisita? Nunca vi uma flor dessa cor. Pois bem, deve ser à flor da esperança. Você precisa vir aqui todo o dia para regá-la, e quem sabe, você não ganha uma bela boneca de presente? – Disse ele, tentando amenizar a tristeza que estampava aquele rosto juvenil.

A pobre criança saiu dali entre a tristeza e a esperança. Na manhã do dia seguinte lá estava ela, aguando a florzinha. Nisso, eis que um senhor de meia idade a observava, sentando a um banco da praça, fingindo ler um jornal, não conseguiu conter o tímido sorriso de felicidade escapar pelo canto da boca, ao contemplar a menina regando a florzinha verde. E pensou consigo mesmo: “Não é que ela veio?”.

As horas correram no mar do tempo feito cascata de luz, e logo caiu à noite. As luzes multicoloridas nas fachadas das lojas, nas varandas das residencias, e até mesmo enfeitando as arvores da praça davam a cidade de Jeremoabo, um fantástico tom de clima natalino.

E, mais uma vez, lá estava Papai Noel distribuindo brinquedos. Sentada ao mesmo banco, da mesma praça, a mesma menina de pele alva maçã aguardava ansiosa, o seu quão sonhado presente de natal que teimava em não vir. Aos poucos, o saco vermelho do Papai Noel estava esvaziando. A decepção tomava forma descomunal dentro do ser daquela criança. Quando, mais uma vez ela levantou a vista, viu que o saco parecia estar vazio. Cabisbaixa, ergueu seu corpo franzino e se levantou para ir embora quando ouviu uma voz as suas costas:

– Ei menina! Espere um pouco. – Quase não acreditou, seria mesmo o Papai Noel que a chamava? – virou-se e constatou com os seus olhos cor de mel, todo arregalado, o bom velhinho vindo em sua direção. Ele colocou a mão dentro do saco e tirou um fino e comprido embrulho de presente, e estendendo a mão em sua direção a entregou:

– Tome, é seu! Foi Papai do céu quem mandou.

Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 02/12/2018
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