VISITANTE FANTASMAGÓRICO

Mora por acaso no mesmo terreno do ylê e - apenas indiferente - não toma parte ativa das inúmeras atividades religiosas. Entretanto, contraditória GEMINIANA, criadora convicta do jornal mural - todos os meses... deuses, curiosidades, ensinamentos.

Houve um bori na noite de quarta-feira. Ao amanhecer, ganhou dois pratos com doces e frutas, colocou sobre a mesa da sala e cobriu com um pano felpudo - estamparia colorida de bule e xícaras (não tema de orixás). Passou o dia inteiro digitando vibratórias aulas de PORTUGUÊS... para mim. /Broncas eternas: "Corrija!" Não corrijo nada e, gato rebelde-genioso, amo e provoco tantos anos e anos de obstinadas-afetivas brigas com carinho. ELA, rata rebelde, não desiste.../

De vez em quando, ELA 'beliscava' uma colherada de pudim, biscoitos e doces miúdos, uvas, kiwi... Duas gordas fatias não definidas entre pavê ou bolo fatiadíssimo recheado ficaram na fila de espera. Freezer, talvez. Temperatura ambiental amena, ventilador interno, o estado dos doces não se alterou. O-cu-pa-da: preferencialmente no tempo, aulas para "o-pior-aluno-do-mundo"... (O único? O predileto? O idolatrado? Assumo vaidade e tentativa de prepotente ARIANO.)

Bom, já era tempo de arrumar tudo, ou seja, o que restara. Pegou um vasilhame plástico retangular e iria arrumar os doces maiores, quando o inesperado aconteceu. Voz forte masculina, apaulistada, dentro de casa: "O bolo é meu" (dois na verdade - o cara fingiu-se educado).

Porta de vidro trancada a chave, olhou na direção, varanda vazia, ninguém. Falou alto - "Se é quem estou pensando, não darei bolo nenhum. Riu do outro atrapalhado que embaralhou 'poço - posso' e tem também muitos erros ortográficos." Em casa, sentado na cama, dessa vez inocentezinho, livro na mão, apresentado recentemente a CAMUS (minha AMIGA sempre culpada!), senti um misterioso odor adocicado e doloroso puxão de orelha.

Nisto, ainda 23 horas no reloginho do computador, horário de verão. Longe da meia-noite real. Fantasma adiantado? ELA me escreveu às 23:07 - "Está dormindo? Amanhã explico."

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NOTA DO AUTOR:

ORI ou BORI - Da fusão da palavra bó, que em iorubá significa oferenda, com ori, que quer dizer cabeça: culto à cabeça. Ritual das religiões tradicionais e diáspora africana, como culto de Ifá, Candomblé e outras, que harmoniza e diminui a ansiedade, o medo, a dor e a tristeza, trazendo esperança-alegria-harmonia.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 07/12/2018
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