A BALADA DO FALSO MESSIAS, livro de MOACYR SCLIAR

Três estórias entrelaçadas - núcleo temático bíblico: a expulsão dos vendilhões do Templo de Jerusalém, ponto de partida para uma narrativa original, que se desdobra em 3 épocas.

Primeira parte - 33 d. C. - Jerusalém da época de Cristo - episódio visto pela ótica de um dos vendilhões, camponês arruinado, obscuro contemporâneo, que descobre no comércio da cidade o lucro fácil para projetos mirabolantes - vida cotidiana na Terra Santa é descrita com humor e vivacidade.

Segunda parte - salto no tempo e no espaço, 1635 - Nicolau, jovem padre, missão jesuítica do Sul do Brasil, situação angustiante - com a morte súbita do sacerdote que dirigia a missão, passa a responsável pela comunidade indígena - forasteiro suspeito aparece como intérprete.

Terceira parte - 1-Estória real - fato histórico ocorrido na Palestina do século XVII, protagonizado por SHABTAI ZVI, proclamado Messias por seu "profeta" NATAN DE GAZA. Após empolgar comunidades judaicas de todo o mundo, inclusive Polônia e Holanda. Shabtai, colocado pelo sultão do Império Otomano ante à alternativa de decapitação, converteu-se ao Islã, para grande decepção de seus seguidores - na verdade, um pequeno grupo destes manteve-se fiel, acreditando que a conversão fazia parte do plano de implementação da era messiânica. // 2-Na versão de SCLIAR, ZVI e NATAN, ainda vivos depois de mais de dois séculos, acompanham, em 1906, judeus russos a caminho das colônias agrícolas fundadas pelo Barão Hirsch (no conto, Barão Franck). ----- A trajetória do "falso Messias" é recontada em meio a várias alusões e episódios da história judaica e da vida de Cristo. ----- 1906 - cidade surgida com crescimento da aldeia indígena - esquerda comemora vitória da prefeitura - assessor de imprensa testemunha mudanças no tempo e relembra teatro de escola: "Vendilhões do templo".

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Um grupo de judeus russos encontra no navio dois judeus palestinos da cidade de Eretz, em Israel, SHABTAI ZVI e NATAN DE GAZA, todos a caminho de uma colônia do Rio Grande do Sul, a chamada Barão Frank, perto de Erechim. SHABTAI leva meses sem aparecer; de repente surge transfigurado, magro, cabeludo, barba longa, e diz aos judeus que façam um barco usando a madeira das casas, voltando para Israel. Contesta aguardar o Messias e grita que "O Messias já chegou" - abre o manto e mostra o corpo cheio de chagas, ventre envolto por um cinturão de pregos. Um dia é chamado para curar um bandido que aterrorizava a região. Vão juntos SHABTAI e NATAN, porém à noite apenas só o segundo retorna: o bandido CHICO DIABO estava sendo tratado por um curandeiro, SHABTAI se aproximou de CHICO, este deu um grito e morreu. No mesmo instante, os capangas do bandido mataram o curandeiro e NATAN fugiu. LEIB RUBIM, padrasto de SARITA, mulher de SHABTAI, diz que os judeus devem ir a Porto Alegre. "E o Messias?" - perguntam; LEIB diz: "Que Messias, nada! O Messias já veio. Transformou a água em vinho. E nós vamos embora." Tempos depois, na capital, a polícia traz SHABTAI, encontrado ao lado do cadáver do bandido e os capangas caídos em volta, embriagados - tudo o que era água, inclusive um charco próximo, se tramsformara em vinho. SHABTAI voltou e começou a trabalhar para o sogro. SARITA morreu pouco depois. O narrador diz que trabalha com SHABTAI também. Perto da meia noite, num bar, SHABTAI fecha os olhos, estende as mãos sobre o copo e murmura palavras em hebraico (ou aramaico ou ladino) e o vinho se transforma em água. O dono do bar acha que é apenas um truque, narrador tem dúvidas........

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 15/12/2018
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