Diário de um Suicída

Oi Diário, hoje deveria ser mais um dia qualquer, mas hoje é natal. Eu particularmente não aprecio estas comemorações de final de ano, são cheias de pessoas vazias, de abraços e sorrisos falsos, aqueles que não foram dados durante o ano todo. Eu sinceramente, não consigo disfarçar.

Ontem mesmo estava com aqueles pensamentos, eu morria diversas vezes enquanto todos bebiam e riam forçadamente da piada ruim do outro. Sim, minha mente mostrava todas as formas possíveis, eu conseguia ver como se fosse real, entre árvore decorada, embriaguez disfarçada de alegria, enfeites de natal eu via a morte, estava cercado de pessoas e ao mesmo tempo sozinho, aliás, sozinho não... Uma faca bem afiada, poteaguda brilhava em meus olhos. Mas estamos falando sobre hoje, desculpe. Hoje sim é natal, mas hoje aqueles pensamentos me perseguiram em sonho, acordei algumas vezes, dormi mal. Digiri aos prantos, é uma dor física, sei que alguém deve sentir o mesmo, a gente não sabe explicar e mesmo se soubessemos jamais entenderiam. Hoje é o dia que eu ouço aquela música do Renato Russo e desejo profundamente que as pessoas se amem como se não houvesse amanhã, porque realmente não há. Sou um cara de sorte, tenho casa, comida e família, tenho com quem estar nesta data tão especial... É o que os outros pensam, mas vou contar a real, as vezes eu não sei como falhei tanto, para ser um suicída é preciso mesmo ter coragem. Tenho medo de altura, quando subo, vejo o chão se aproximando rápido e ouço meus ossos se partindo em pedaços. Juro que eu tento, todos os dias eu tento, mas o cerco está se fechando e não tem ninguém que consiga abrir. Sobre a faca de ontem, não é mesmo a melhor forma... Lenta e dolorosa, não... A vida já é assim. Se a faca não for bem amolada, fracassarei e não admito. Amanhã eu volto, se a coragem não me tomar inteiro.