AS REFLEXÕES DE AURÉLIO
Conto de:
Flávio Cavalcante


 
     Um ditado popular que cabe como uma luva nesse conto. “QUEM VÊ CARA, NÃO VÊ CORAÇÃO” e eu pude comprovar depois de conversar com alguns amigos de trabalho numa mesa de café da manhã na empresa onde me encontro.
 
     Aurélio, um cara aplicado e muito responsável nos seus afazeres dentro da instituição que ele trabalha. Exemplo de profissional segundo seus colegas que trabalham no mesmo setor.
 
     Conheço Aurélio há bastante e sempre o vi como um cidadão centrado, calmo; mas, nunca tivemos a oportunidade de conversarmos sobre nossa vida pessoal, até pela aproximação que tenho com o rapaz seria algo bastante comum este tipo de conversa.
 
     Nessa manhã, era bastante cedo ainda e todos os nossos amigos estavam distribuídos na mesa saboreando aquele delicioso café, feito pelas mãos mágicas de dona Marta, também funcionária da empresa e responsável pela cozinha daquele recinto. Tipo de lugar muito agradável e uma hora propícia para batermos um papinho antes de começarmos as nossas atividades.
 
     Uma televisão estava ligada dentro do ambiente e noticiava a violência externa da cidade grande e a matéria despertou a atenção de muitos que estavam ali na mesa. A notícia era sobre drogas, assaltos, assaltantes encarcerados e pessoas que vivem no crime. Por um momento percebi que Aurélio parou para assistir aquela matéria se desligando completamente das pessoas envoltas ali naquela mesa passou a viver num bem distante dali. Um outro colega de trabalho de Aurélio que estava também assistindo a matéria retrucou que encarcerados quando cumpri pena não consegue trabalhar em empresa e Aurélio discordou de imediato relatando que era viciado em drogas pesadas e pouco antes de entrar naquela empresa ele era detento e praticou muita coisa errada. Disse até que já matou algumas pessoas e praticou muitos assaltos à mão armada.
 
     Dessa vez eu que fiquei perplexo com aquela confissão. Todos pararam de degustar o delicioso café e por um momento o silêncio tomou conta dos funcionários que estavam ali presentes. Os ouvidos estavam voltados para uma história quase que inacreditável.
 
     A droga ainda persegue aquele cidadão. Ele próprio confessou que era viciado e hoje ele está sobre proteção da igreja, assim que ele acredita. Ele deixou bem claro para os ouvintes que o cárcere não é lugar para ninguém. Se emocionou quando disse que luta com todas as forças para não fraquejar, pois tem certeza que se isso acontecer, toda sua estrutura irá desmoronar e toda vitória que ele vem conquistando cairá por terra. Disse em bom tom.
 
     “É um caminho sem volta. É uma doença que não tem cura. O que existe é um paliativo se o malfeitor acordar pra vida e aceitar a mudança”.
 
     Aurélio explicou que ele ainda não se libertou do vício. A necessidade de sair daquele cárcere tenebroso fez com que ele procurasse ajuda. Hoje está na igreja por questão de necessidade de regras, obedecer normas dentro daquele templo. Em uma longa conversa, Aurélio se sentiu bem à vontade em contar detalhes da sua vida e como é viver no inferno dentro de uma prisão. Relatou também que os seus irmão seguiram a mesma vida do crime que ele e ainda cumpre pena na prisão, mas, hoje em dia, a sua luta é tentar mostra o caminho das flores e fazer com eles acordem para a realidade da vida. Segundo ele, seus irmãos ainda são muito jovens e já enxerga o final de cada um. Novamente atrás das grades ou morto, jogado dentro de alguma vala por aí.
 
     Em lágrimas, Aurélio deixou uma mensagem da importância que a religião fez na sua vida. Dez anos afastado e ele tem a consciência que ele apenas entrou no templo e o diabo está no lado de fora o aguardando sair para destruir definitivamente a sua vida.
 
     “EU ESTOU NA IGREJA HÁ DEZ ANOS. ESTOU AFASTADO DESSAS DROGAS E MALFEITOS, MAS EU TENHO CERTEZA DE QUE EU NÃO ESTOU CURADO. EU NÃO POSSO SAIR DOS BRAÇOS SENHOR, PORQUE SE NÃO, SEM DUVIDAS ALGUMA, O VICÍO VAI ME PEGAR NOVAMENTE E EU NÃO SEI O TIPO DE BICHO QUE EU VOU ME TRANFORMAR. SOU TRABALHADOR E O BEM MAIOR QUE EU TENHO A ZELAR É A MINHA FAMÍLIA”.
 
     As palavras de Aurélio me emocionou bastante e foi até um aprendizado. Foi exatamente ali que eu vi da importância do homem ter uma crença espiritual, e parece que Aurélio descobriu a sua crença, se agarrou nela e está seguindo sua estrada no caminho certo.
 
 
Flávio Cavalcante
 
 
Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 04/01/2019
Código do texto: T6542914
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.