Jogando a culpa

- Mamãe! Mamãe! Olha aqui, eu passei pra última fase do Carmageddon e eu explodi a cabeça do pedestre quando passei em cima dele.

- Que bom querido, que bom - respondeu à mulher passando pano nos moveis da sala.

- O meu amiguinho tem o jogo novo, mamãe. Ele disse que é muito daora e tem até metralhadora que mata mais e ganha mais pontos. Compra pra mim o jogo novo, mamãe?

- O que você quiser meu...

- Janice, você ficou sabendo do atentado em Paris? - Interrompeu o marido largando as botas molhadas na entrada da sala.

- Fiquei sabendo que muita gente morreu. Uma tristeza. - Respondeu ela aos suspiros, jogando os panos no sofá.

- Onde a humanidade vai parar desse jeito? Como um ser humano sente prazer e alegria em matar, me responde? Vamos embora da França, quero voltar para o Brasil!

- O Brasil é um bom lugar para criar o Miguel.

- Fico pensando no nosso filho, no que será do futuro dele nesse mundo de bichos. Como pode algumas pessoas serem tão ruins?

- Sabe o que eu penso? Isso é coisa de nascença. Esses terroristas não tinham boas mães e por isso ficaram assim. Com certeza viviam num ambiente violento, sem amor. Escuta o que eu falo, isso é culpa dessas mães que não sabem criar seus filhos.

- Pode ser, meu bem. Graças a Deus que tenho você para cuidar do nosso pequeno - sussurrou o homem, beijando levemente a têmpora da esposa - Vou me trocar.

Janice assentiu e o marido se afastou.

- Mamãe, mamãe - gritou Miguel, batendo os pés no chão - Amanhã eu quero o Carmageddon novo, já passei todas as fases desse.

- Sim, meu amor, a mamãe já disse que vai comprar.

- Yes! - vibrou o garoto levantando as mãos para cima, imitando uma metralhadora.