Elogie meus defeitos

Naquela noite de bar, bebida e afogamento das mágoas, você disse que eu era linda.

Sim, eu sei que eu sou linda, obrigada pela percepção. Todo mundo é lindo. Todo mundo tem um detalhe que faz os olhos saltarem e o coração disparar. Produzida do jeito que eu estava, não me surpreendeu quando você foi só mais um que reparou em como meu cabelo estava brilhante e sedoso e em como eu usava um batom que ressaltava o formato da minha boca.

Mas eu sei que eu não sou só beleza. Caso pense em me elogiar depois de uma conversa boa, não fale do que aparece do lado de fora. Eu sou transparente feito um cristal. Fale do que transparece do lado de dentro.

Elogie minhas manias, os meus jeitos, a minha lábia afiada e a minha fluidez com as palavras. Se tudo isso for demais para você, elogie os meus defeitos.

Elogie as minhas sardas desgrenhadas no rosto, motivo do bullying que sofri na infância. Elogie o meu nariz grande demais, a minha pálpebra caída, e diga como eles ficam lindos em mim. Diga que há algo incrível no jeito que eu me movo parecendo um patinho a plena tentativa de voo. Diga que eu danço muito mal, e que essa é a coisa mais adorável que alguém já pôde fazer na sua frente.

Quando você diz que algo horrível fica maravilhoso em mim, eu entendo que você não está vendo só o que o rímel e o brilho que apliquei nos meus olhos reluzem. Eu entendo que você conseguiu entender a minha mensagem. O meu motivo.

E, principalmente, eu entendo que você soube enxergar a minha missão: provar que, quando não tenho nada disso, quando meus lábios não estão pintados de escarlate e eu não passei horas escovando o meu cabelo, eu ainda sou linda: por dentro. Tão dentro que transparece para fora.