O primeiro chifre a gente nunca esquece

 
É meu amigo, Tom! O primeiro chifre a gente nunca esquece. Mas com a mulher é diferente porque temos um troço chamado sexto - sentido, que só serve para descobrir a "outra" e mais nada, mas quando ele apita é sinal que tem coisa! Tenho uma amiga que acredita em sexto-sentido, horóscopo, superstição e até folhinha de trevo quando se trata de amor.

De tantos argumentos ela até me convenceu que isso existe mesmo, pois só um dom extraordinário para explicar o que faz uma mulher- que não está fazendo absolutamente nada-, e aqui, faço uma ressalva, pois "mente vazia é oficina do capiroto" e nesse caso, nem precisa de sexto-sentido para inventar coisa!

Mas, o que leva uma mulher a querer ir naquela rua, sim, aquela rua, onde o carro do amado está estacionado na hora errada, da qual ela não sabe sequer colocar o nome no GPS, porém, num estalo sem explicação, resolve ir exatamente ali tomar um ar fresco porque sentiu um aperto no coração? Ou ainda, como explicar ficar vasculhando fotos antigas e visitando páginas de amigas das amigas das amigas que ela nem sabia que existiam? Pois é... e de repente ela fica frente a frente com todas as provas do chifre, escancaradas, sem refutação possível, todas descobertas de forma fortuita.

Pois bem, essa minha amiga estava com o sexto - sentido aguçado, então, começou a vasculhar até encontrar tudo que não estava procurando. O rastro deixado era tão longo que parecia a calda do cometa Halley ou mesmo a  via láctea de tantas evidências.

Meu amigo, ela queria gritar, chorar, espernear, morrer, emagrecer, principalmente, emagrecer! O sofrimento tem que servir para alguma coisa!


Mas, no auge do seu desespero, eis que algo mudou radicalmente a situação, pois o chifre não existe por si mesmo, é uma categoria dependente de muitas outras existentes, como direito de propriedade, relações contratuais e exclusividade de afeto. E foi assim que ela se deu conta que a "outra" era ela e que, portanto, dentro dessas categorias, ela não podia levar chifre. Isso foi libertador! Pois descobriu que tinha aparência de chifre, mas não era chifre.
 
A partir desse dia, não acreditou mais esse negócio de sexto - sentido, que não tem sentido algum. Só conseguiu descobrir que ela era a "outra"! Entendeu que chifre não existe e deixou de sofrer. Hoje, se ele andar de lambreta com outra, ela sabe que não é real, lambretas não existem e chifre é algo que colocam na cabeça da gente!








* Inspirado na poesia com o mesmo título de Tom Torres,  a quem agradeço imensamente pela inspiração.
Lena Lustosa
Enviado por Lena Lustosa em 23/01/2019
Código do texto: T6557359
Classificação de conteúdo: seguro