Esboço perdido

Era uma tarde exposta ao vento. E o mar roncava estrondoso bem alí. Os coqueiros, com o resto da vegetação, dançavam pra lá e pra cá a dança do vento, e a areia da praia voava com suas salinas misturas e pedriscos tão alvos. Tornava a tarde mais turva de se ver. Lembrava uma horda de mosquitos velozes e quentes, voando em direção ao vermelho e longínquo oeste. Relativamente, era a direção contrária para aquela solitária silhueta que estava de joelhos logo alí adiante. Passos afundaram continuamente a areia há poucos instantes. E seguiam... até terminarem em dois joelhos dobrados, que suportavam o restante do corpo.

Ao lado de umas poucas rochas, bem próximo de onde quebravam as incessantes ondas azuis, alí ele restava. Estava com um papel de aspecto velho na mão, era o esboço de uma cidade. Uma imensa cidade. "Não entendo, que estranho... mas isso é uma cidade! Como assim? Quem perderia algo assim tão importante? E o vento me trouxe... Será que alguém mais viu? Ou veio só pra mim? Se alguém viu ou não, és muito antigo, e agora, está longe de mais." A folha é virada ao verso e lá está. A grande frase póetica de Drummond, na qual o solitário da praia tanto amava e tinha tatuada em seu corpo " No mar estava escrito uma cidade." "-

Ah! Então era isso... A cidade que ele falou, que ele falava, está aqui em minhas mãos. Será que o esboço foi perdido pelos engenheiros celestiais? Ou Drummond quis me presentear? Talvez soubesse da minha ânsia em ver tão qual seria tal cidade, todo o meu sonho... Mas sempre imaginei, e era exatamente assim. Extensa além da linha azul que sou capaz de ver... um sonho que nunca houve, demasiada belas para existir."

Uma onda que veio mais forte quebrou sobre ele, envolvendo- o até a cintura, e o fez assim, soltar o velho papel. Olhou imediatamente para os lados, na água, querendo recuperá- lo, quem sabe guardá-lo... Mas jamais viu novamente tal papel. " Entendi... Entendi já. Seria um cego de verdade se não decifrasse, que assim como o poeta, tu também te vais. Então vá minha linda cidade. Seja sal agora, seja azul novamente... então seja mar para sempre."

Artur rocha
Enviado por Artur rocha em 02/02/2019
Reeditado em 10/03/2019
Código do texto: T6565451
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