Pena aos de Penas - Abelhas e Borboletas
Cantam pássaros nos arvoredos
As abelhas polinizam as flores
Corujas escondem seus segredos
Ninando aos sons dos cantores
Voam e revoam aos céus
Pulam de galho em galho
Sem compromissos ao leu
Até ignoram o espantalho
Agrupam-se e descem
Em busca dos alimentos
E súbito desaparecem
satisfeitos dos intentos
Muito ágeis e atentos
Nos espaços do lugar
A meros movimentos
Batem asas, a revoar
A dona chuva faceira
Que não adula encanto
Derrama-se fagueira
O seu manhoso pranto
Aos ramos se escondem
Protegendo seus ninhos
Espertos saem e comem
Os audaciosos bichinhos
Beleza encanta a gente
Coração é quem espalha
Mas o mal infelizmente
Iça casa na mente falha
Uma arma em cada mão
Mais um pássaro silencia
É triste já não há canção
É o arvoredo sem alegria
As abelhas, em flores, zunindo
Pairando e pensando nos favos
Que por elas se via produzindo
Margaridas, as rosas, os cravos
Canção é o seu mel
Aposta após colhida
Oposta do que é fel
Pureza da bela vida
Colheita, havendo cuidado
É pelo certo, não proibido
Mas ai, ai, pobre coitado
Se por leigo, for agredido
Não atribuas culpa, não
Querer não é seu possuir
Concedas logo, a razão
De seu não deixará se ir
Ferrões, suas defesas
Embates do dia à luta
Para festejarem ilesas
À colmeia pela labuta
E os jardins, tão coloridos
Nas visitas, as borboletas
mas estampidos dos tiros
Aos clarões das espoletas
Espalham-se ao céu azul do dia
Entre os raios do majestoso sol
Desfiguram com minha euforia
Modificando a hora meu arrebol
A coruja dormia sossegada
No galho, alheia, encolhida
Parecia não ter com nada
Da graça, a poucos, tolhida
Ainda que lhe difamem de feia
E que estranhem sua inversão
Na noite faz busca da sua ceia
E o dia lhe é toda a escuridão
Não viu, nem ouviu
Nem sentiu o tombo
Cínico o mal sorriu
No peito o arrombo
O Urubu voa distante,
Assustador e matreiro
Por que não constante,
Caçador ao carniceiro?
E de repente tudo se cala
No chão a tristeza deflora
Só a morte ao ar se exala
Tomado, maldade explora
A Tarde faz sua visita
Vai-se embora claridade
Que vendo e não evita
A oportunista saudade
O silêncio da noite da mata
Põe-se, guardião, a coruja
Bichos, de fome, vêm à caça
Canta, grita, dizendo fuja
Novo dia vem clareando
E com alaridos manifestam
Novos ninhos se formando
Pelos que ainda se prestam
E florindo no perigo
Fazendo-se morada
Sustento, paz, abrigo
Mercê da passarada
Que sabe de nobreza
Enquanto se faz dança
Pois existe a natureza
Aflorando a esperança
Que vivo admirando
De mim o triste roço
Meu riso alimentando
Que ver ainda posso
Quisera se eu, o dono
Desses seres, cantores
Descansaria bom sono
Dizimando os invasores
Mas ai, ai, quem sou eu
Que nem ao menos julgar
Consolo a quem pereceu
Lágrimas posso derramar
POR INCENTIVO DE CRISTINA GASPAR
MINHA GRATIDÃO