"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance= Capítulo 49

    Eliane jamais aparecia na loja, nem mesmo durante a montagem inicial e final como proprietária, sócia ou simples interessada. De vez em quando passeava por ali , detinha-se por algum tempo examinando tudo como simples curiosa desocupada e perguntava a um dos trabalhadores quando é que a loja ficaria pronta. Explicava, rindo, ser uma compradora compulsiva e que não via a hora de ter mais uma bela loja no centro onde gastar seu rico dinheirinho. Os homens davam-lhe explicações e detalhes com o prazer que desperta sempre uma bela mulher, mesmo que uma simples curiosa. Eliane aproveitava o ambiente amistoso para dar alguns palpites e apontar, sorridente, algumas falhas quase imperceptíveis, desafiando-os carinhosamente a fazer cada vez melhor. Sempre com muita simpatia e extrema delicadeza, o que deixava os montadores agradecidos e encantados com aquela linda moça tão detalhista e minuciosa.
   A gerente e as vendedoras já haviam sido escolhidas através de uma agência de empregos de Santos e, pelos currículos apresentados, pareciam muito eficientes e profissionais. Seriam trinta vendedoras escolhidas tanto pela experiência quanto pela beleza e simpatia. Além de real vontade de ganhar dinheiro. Aos bons salários fixos Eliane pagaria também uma comissão fixa por venda a título de incentivo a um empenho cada vez maior. A loja, segundo os planos de Eliane, seria um verdadeiro paraíso para os compradores por causa dos preços, para as funcionárias pela oportunidade de bons ganhos, para os fornecedores devido aos pagamentos no ato e às grandes e constantes encomendas, além de ser mais uma fonte de renda para os cofres públicos tendo em vista os muitos impostos que seriam pagos absolutamente em dia. Para Eliane uma fonte ilegal e o mais segura possível de altíssimos ganhos diários.

    Um mês depois da inauguração da loja a distribuição de drogas funcionava exatamente dentro do que fora planejado. O número de distribuidores era modesto, mas suas compras eram feitas em quantidades significativas e caa vez maiores. Eles entravam na loja minutos antes da hora combinada, passeavam por ela, ou faziam algumas compras, dirigiam-se depois à porta do falso cofre, colocavam os maços de notas e esperavam pela conferência do dinheiro. Logo após a conferência aparecia um pacote embrulhado em azul, vermelho, ou verde. A cor indicava que o pacote portava exatamente a quantidade solicitada e paga.
   As compras de maior vulto só poderiam ser efetuadas mediante um aviso prévio de pelo menos quarenta e oito horas. Nada de imprevistos ou de entusiasmos de última hora. Absolutamente nada de qualquer contato visual ou físico entre a pessoa escondida que fazia a entrega e o distribuidor que ia retirar a lucrativa mercadoria.
   Após o recebimento do pacote o cliente entrava no por um estreito corredor lateral e via-se dentro do estacionamento dos fundos da loja, exatamente em frente ao porta-malas de seu próprio veículo que, conforme as regras ditadas antes, estacionara de ré, bem próximo ao paredão que separava a loja vizinha. Abria então o porta-malas, colocava lá dentro o pacote, qualquer que fosse seu tamanho, fingia tentar fecha-lo, abria-o novamente mais duas vezes seguidas e depois ia embora. Quando abria e fechava o porta-malas mais de duas vezes estava avisando que era de fora e que queria proteção até o início da rodovia. Se abrisse e fechasse a porta quatro vezes a proteção sugerida seria para até a capital. A compra fora grande e havia riscos no caminho. O distribuidor não conseguia ver quem lhe daria segurança, mas sabia que poderia contar com ela. O que não podia era esquecer-se de sinalizar com a tampa do porta-malas. Depois que fizesse isso qualquer obstáculo seria removido de seu caminho durante o trajeto de volta à sua cidade.
   Para os distribuidores de Santos não era oferecida a segurança, mas eles a teriam caso fizessem o pedido através de um bilhete anexado ao dinheiro.

   Durante um ano e oito meses o esquema funcionou às mil maravilhas. Eliane não tivera o mínimo contratempo e distribuiu uma quantidade imensa de pó branco que desgraçava a vida de tantos viciados e enriquecia depressa os melhores e mais eficientes distribuidores. Ela ria ao pensar que tanta gente lhe fazia tão grandes compras e não podia sequer imaginar como seria sua fisionomia. A própria gerente da loja, mulher prática, inteligente e eficiente, desconhecia totalmente o que se passava atrás daquela parede em que havia uma porta de aço com um orifício quadrado por onde ela entregava diversas vezes ao dia o movimento parcial da loja. A gerente fazia a entrega a uma senhora idosa e muito simpática que ficava atrás da porta de aço, mas esta senhora idosa desconhecia que ao seu lado, atrás de outra parede que dividia o cômodo, havia uma pessoa trabalhando em um comércio tão rendoso quanto ilegal. Ao final do expediente a senhora idosa encaminhava-se à porta do cofre e lá entregava todo o dinheiro, os pacotes de cheques e os talões de notas fiscais do dia a um senhor que ali trabalhava à noite e que era o contador da loja.
   No dia seguinte pela manhã o contador faria o depósito do total no banco mais próximo e iria para casa. Seu horário de trabalho iniciava-se à oito da noite e terminava logo após efetuar o depósito. Durante esse longo expediente colocava em ordem a contabilidade da parte legal do “Magazine Jeremias” dava baixa nos artigos vendidos, relacionava os estoques a serem repostos e com satisfação pensava em seu ótimo salário. Salário pago religiosamente em dia.
   Ao fim dos primeiros vinte meses, nos quais tudo transcorreu às mil maravilhas, três dos distribuidores desentenderam-se por questões de territórios e iniciou-se uma guerra entre eles. O primeiro a ser ferido mortalmente teve tempo de, vingativamente, contar a um delegado que se aproximara de sua maca no hospital, o nome e endereço da loja onde abastecia seu estoque.

= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 21/09/2007
Reeditado em 21/09/2007
Código do texto: T661478
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