Os Lobos

Vejo meu corpo ali jogado, e minha carne sendo comida e despedaçada por lobos famintos...

Às 6:30h da manhã o despertador começa a tocar sem parar. Mara acorda assustada, senta-se à beira da cama, desliga o alarme que grita em seus ouvidos e, logo em seguida inicia sua rotina diária.

Escova os dentes, se veste (neste dia coloca um vestidinho de lã vermelho, meia calça preta, casaco escuro e sapatos fechados) e volta ao banheiro para se maquiar no único espelho que tem na casa. Talvez use um batom rosa, ou o seu preferido, um vermelho cereja, porém, enquanto decide qual batom usar, pinta os olhos delicadamente com cores escuras, decerto por que o dia estava nublado e frio. Enfim, escolhe o batom marrom chocolate para dar um tom mais doce aos seus lábios. Prende os cabelos em coque no alto da cabeça, e com aqueles olhos negros, graúdos, cheios de mistérios, sai para trabalhar e, quem sabe tomar um café na padaria se conseguir economizar dez minutinhos correndo até o ponto de ônibus.

Infelizmente, sem ter conseguido tomar seu café, ela chega no serviço, cumprimenta todos e entra em sua sala. Passados alguns minutos, chega Thomas e a convida para almoçar com ele em um restaurante de comida caseira que fica ali bem próximo, tomada de felicidade, se joga em direção ao moço para abraçá-lo.

— Como recusar um convite seu, meu amigo! Vamos colocar os papos em dias.

Após o almoço, Thomas leva de volta sua amiga no trabalho, se despede e vai embora. No final do dia, Mara termina seu expediente, é hora de voltar para casa. Seu chefe gentilmente lhe oferece uma carona, mas ela agradece, não gosta de incomodar os outros.

Nada como chegar em seu cantinho, tomar um banho quente enquanto observa descer lentamente pelo ralo, toda sujeira que recebera durante o dia, nas ruas, no ônibus, nos apertos de mãos, nas notas de dinheiro nojentas que fediam a pobreza, e da maquiagem que lhe escorria pelo rosto. Como era boa a sensação de estar limpa, ao sair do banho sentia-se até mais leve, era como se a pureza do nascimento invadisse seu ser.

A noite caía e Mara se espantava a cada segundo, sabia que a partir dali os lobos logo chegariam. Não tinha muito o que fazer, era morrer para no outro dia às 6:30h renascer...