SEBASTIANISMO

“Era uma vez um rei que.........”

Muito jovem, possivelmente um sonhador, à frente do exército português, Dom SEBASTIÃO simplesmente sumiu (encantado? prisioneiro? fugitivo?) /ninguém sabe, ninguém viu... - não foi por impeachment, o país garante!!!/ em terras longínquas, missão heroica de ajudar um sultão otomano a recuperar seu reino de um tio usurpador (e secreta e simultaneamente tentar civilizar e cristianizar a África), em meio a cavaleiros árabes, Batalha de Alcácer-Quibir, Marrocos, agosto (popularmente mês do cachorro doido) de 1578... Ninguém o viu tombar, morrer, a certeza não houve. Inútil campanha militar. Antes da luta, viagem cansativa, esgotamento por muito esforço físico, fome e calor. Muitas perdas, muita nobreza dizimada: heróis de vitoriosas batalhas anteriores, mas sorte não se eterniza. Arranjaram um corpo, bastante desacreditado, irreconhecível porque muito ferido, e o enterraram com faustos nobres... Ao ‘pé’ do rio Tejo, o Mosteiro dos Jerônimos, Lisboa (fundado em 1496 - o audaz navegante Vasco da Gama enterrado ali também). Apareceram impostores, até de outras nacionalidades (e os sotaques?), logo enforcados. Durante um século esperaram o rei vivo... regressando numa noite de nevoeiro... e eternizado em seus 18 anos. Solteiro, sem descendentes. Aí virou mito e lenda, movimento redescoberto no nordeste brasileiro, imaginário popular que neste solo seco arrebanhou multidões de gente sofrida, concepção religiosa de um messianismo que voltaria vitorioso (de quê? quando? onde?) distribuindo terras e ouro........ em primitivo socialismo. Até hoje inspiração para muitos poetas ilustres (esperanças políticas a cada decepção nas urnas e consequentes maus governos...) e cantadores ilustrados. BANDARRA (1500 / 1556), escultor, profeta e sapateiro de Trancoso, foi o primeiro a prever e desejar o retorno de um ‘desaparecido’, encoberto salvador da pátria: fez versos, isto é, trovas messiânicas atribuídas posteriormente a Dom Sebastião, duas a três décadas depois.... A (des-)ventura do reizinho desde então tem sido cordel, virou lendas e romances... Para mãe exausta, um alívio: “Olhe que eu chamo Dom Sebastião!” A garotada se aquieta porque é mais seguro acreditar (fale em Golem a um judeu, mesmo adulto e agnóstico cientista : mito assustador).

FOLCLORE BRASILEIRO - Conta-se que, nas noites de São João (por quê nesta exata época?), lá na praia dos Lençóis, no Maranhão, cerca de 70 km de areal lindo, do nada, de repente aparece o fantasma de Dom SEBASTIÃO, nascido num 20 de janeiro, que foi rei de Portugal, transformado num touro negro - solta faíscas douradas pelas narinas, tem os cabelos dourados e uma enorme estrela na testa. Possui um palácio no fundo do mar, onde moram damas e criados que nessa noite cantam tristes melodias. O encantamento do rei só terminará quando algum corajoso fizer um furo em sua testa até que sangre,só então o palácio virá à superfície, provocando um maremoto que fará desaparecer a cidade de São Luís.

NOTA DO AUTOR:

“Os Lusíadas”, longuíssimo poema épico camoniano, 1102 estâncias, 8816 versos - obra dedicada a Dom Sebastião (1554/1578).

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 14/04/2019
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