CHE VIVE!

"El nombre del hombre muerto

Ya no se puede decirlo

Quem sabe?

Antes que o dia arrebente

El nombre del hombre muerto

Antes que a definitiva noite,

Se espalhe em toda latinoamérica

El nombre del hombre es pueblo"

( Gilberto Gil, Torquato Neto e Capinam )

Selva da Bolívia, 8 de dezembro de 1967. O exército boliviano encurrala um grupo de guerrilheiros. O chefe desses guerrilheiros, doente e maltrapilho, é atingido por uma bala na perna, seu fuzil cai no chão, ele é aprisionado e levado para um vilarejo chamado La Higuera. Era a última marcha do grande revolucionário Ernesto Che Guevara. Nesse vilarejo ele é colocado numa sala de uma escola e os militares sumariamente e covardemente fuzilam-no com vários tiros abaixo da cabeça, para dar a ideia que ele tinha sido morto em combate. Violaram, os milicos bolivianos, os mais elementares princípios da ética militar. O medo do mito e a subserviência à CIA americana apagou neles quais resquícios de humanidade. O Che morreu sem medo, tranquilo, fotografia dele morto mostra-o de olhos abertos, sereno, rindo dos algozes, da covardia deles, uma covardia sem limites. A aparência do Che, apesar do raquitismo e da doença que sempre o perseguiu, era de um vencedor. De um justo. De um puro. Um homem de verdade.

Como todos os assassinos e tiranos, os milicos da Bolívia e seus patrões americanos, pensavam que assassinando Guevara matariam suas ideias, anulariam os seus sonhos, parariam a história. Estavam, claro, redondamente enganados. O comandante tombou, morreu fisicamente, mas o mito do herói sem mácula e seu exemplo de bravura iriam influenciar várias gerações. Che é hoje sem exagero, o grande herói do século que finda. O maior herói dos tempos modernos. Decorridos 30 anos do seu assassinato seu nome é constantemente lembrado, principalmente pelos mais jovens. Há um consenso em torno de sua integridade, honestidade e pureza de ideais.

Costumamos todos, quando pensamos na figura do Che, fazermos sempre algumas indagações aos nossos botões: "Como um jovem da classe média alta argentina, médico talentoso, com grande cultura, com todos os predicados para se tornar um sucesso dentre a grande burguesia, de repente larga tudo e se engaja ana luta revolucionária subindo a Sierra Maestra junto com Fidel, Raul, Camilo e seus demais companheiros?. A resposta não pode ser outra: ele era um revolucionário de berço, um idealista, um herói. Era o exemplo mais bem acabado de homem solidário e indignado com as injustiças sociais. Era duro, inflexível, exigente até consigo mesmo, mas era também sensível às artes e capaz de gestos de fraternidade. É dele a seguinte frase: "É preciso endurecer mas sem perder a ternura jamais".

Era o tipo de homem capaz de dar a vida pela causa que acreditava. Era um líder de verdade. Esse tipo de líder é raríssimo, mas existe. Graças a Deus. São eles que dão dimensão à humanidade, que fazem a diferença entre a verdade e a mentira, entre a dignidade e a subserviência,entre a honra e a desonra.São esses bravos que servem de exemplo para a juventude. Para resistir às tiranias precisamos do exemplo dos Ches. Sem eles vegetaríamos em meio ao império da mediocridade e do fisiologismo, lambuzando-nos no lamaçal do oportunismo e da mesmice, liderados por anões da politica miúda, políticos cínicos e subservientes que mandam esquecer tido que escreveram antes de subir ao poder, e toda a cambada de picaretas safados de todos os naipes, inclusive os esquerdistas de marré-marré. Sem exemplos de inteireza de caráter não haveria razão para sonharmos com uma sociedade nova.

Nesse momento em que os liberalóides e as marionetes do imperialismo se deliciam com o processo de espoliação das nações mais pobres via globalização da economia, é oportuno refletirmos sobre a luta de Che Guevarae o exemplo de Cuba - uma ilha que sofre o bloqueio covarde e infame dos EUA. Claro que é perfeitamente admissível discordar das gerrilhase da filosofia marxista, até porque aquele tipo de luta revolucionária hoje seria impraticável, e o marxismo, devido aos avanços da tecnologia que alterou as reações de trabalho, talvez necessite ser revisto. Mas anão se pode deixar de reconhecer o valor das ideias do Che, elas em grande parte repetem os valores do Cristiansismo porque eram- e são - baseadas na solidariedade, fraternidade e humanidade. Por outro lado, há que se reconhecer os avanços de Cuba nos campos da saúde, educação, trabalho e dignidade humana.

Lembro-me do dia que anunciaram a morte de Che Guevara. Estávamos em plena ditadura militar. Naquele tempo falar no Che ou em Cuba era pecado mortal, dava até cadeia. A ditadura já sinalizava para o aguçamento da repressão contra as esquerdas e os democratas. Nesse ano, 1967, houve um festival de música popular que classificou canções que se tornariam antológicas: "Alegria, Aegria", "Domingo no Parque", "Ponteio" e "Roda Viva" . Era o início do movimento tropicalista, que começou quando Caetano e Gil colocaram guitarras elétricas nas suas músicas e acenderam um grande debate dentre a intelectualidade. Eraa época da grande escalada americana no Vietnã. Foi quando apareceram nos EUA os hippies, jovens que deixavam os cabelos crescerem e iam viver em comunidades, à margem da sociedade, protestando contra a guerra. Foi nesse an que assassinaram Guevara e logo começaram no Brasil as torturas, assassinados e desaparecimento de presos políticos. Começava os anos da repressão mais cuel da nossa história.

Hoje, 30 anos depois, quando descobriram, afinal, os restos do guerrilheiro, os seus executores esconderam o corpo num local secreto (antes cortaram suas mãos e enviaram para a CIA para provar que tinham mesmo feito o "serviço" e, óbvio, receberem os 30 dinheiros), o mito do Che renasce com força e vigor, enquanto seus carrascos foram todos execrados e jogados no lixo da história Pena que alguns dos seus admiradores tenham aderido ao sistema fascista e neoliberal, traindo os ideais da luta popular e se novelando aos antigos adversários. Esses traidores serão execrados pela história. A história só premia a coerência, a dignidade e a honestidade. Não há razão. portanto, para que não acreditemos na construção de uma sociedade nova como preconizava Guevara. Felizmente hoje, apesar dos retrocessos e dos atentados a nossa soberania nacional pelo entreguismo, podemos afirmarde alto e bom som o nome do "hombre muerto" , inclusive falar das suas ideias, que nao era possível quando Gil, Torquato e Capinam compuseram a musica antológica, "Soy Loco por ti, América" em homenagem ao grande guerrilheiro. Graças a Deus, a noite escura da ditadura passou, ha ameças de mau tempo, reconheço, mas por isso mesmo é preciso lutar, o exemplo do Che é como uma luz a iluminar o caminho daqueles que lutam por uma sociedade justa. Enquanto houve essa chama a nos guiar, tenho certeza, o Che viverá! E, quem sabe, um dia o nombre do hombre muerto será povo.

P.S. Escrita em julho de 1997. Adendo (uma amiga mandou colocar): "No Evangelho Jesus diz que ninguém tem mais amor do que aquele capaz de morrer pelo próximo. Nesse sentido, Che foi um santo". (Frei Betto

I N T É ou Hasta Luego, como diria o Che.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 19/04/2019
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