O Caminho do Meio

Encontraram-se no meio da algazarra das festas religiosas e levaram-se um ao outro para uma rua escura, deserta, longe da multidão. Enquanto ia, ele pensava. Já se conheciam a quase dez anos. Ele sabia que ela sentia algo por ele. Seus amigos diziam sempre. Ela mudava-se perto dele. Corava. Tornava-se monossilábica e estava sempre sorrindo. Ele não. Nunca mudara. Estava sempre impássivel. Sério mas terno; como agora. Intrigava-lhe aquela mudança repentina da garota. Bochechas vermelhas ardendo em fogo, como febre. Movimentos involuntários e desajeitados. Já tinha escutado algumas coisas sobre isso. Seus irmãos falavam sempre. Mas lhe parecia diferente. Não era igual ao que ouvira.

Quando entraram numa casa, viu através das sombras, num dos mortiços raios da lamparina a óleo da rua, o sorriso. Sentiu-se subitamente bem. Mesmo depois que a porta se fechou e o sorriso sumiu na escuridão. Mas não demonstrou o prazer em sua face. Um lençou cobrindo uma porção de palha era a cama, e logo se deformou sobre o peso dos dois. Entre os beijos que ela lhe dava suas mãos o despiam. E ele só se deixava despir. Deitada, ela já estava ofegante, respirando pesadamente em seu rosto. Mas ele apenas observava as sombras movendo-se. Sentia os braços agarrando-se ao seu redor. As pernas e ocorpo inteiro se envolvendo nele. Sentia o calor do corpo como se fosse atravessado por ele. Os dois corpos pareciam se atrair. Cada vez mais juntos. Apertando-se mais. Fundindo-se. Então, como se se repelissem, uma dormência atingiu todo seu corpo mantendo-os separados. Ela rolou para o lado e se cobriu. Ele sentou-se e sentiu-se cançado. Lenvantou, vestiu as calças e saiu pela porta com passos mortiços e lentos, olhando através do chão, direto para o centro do planeta.

Experimentar de tudo antes de seguir.