Insones Ponteiros (BVIW)

À noite curva-se devagarzinho, entre o espaço da cortina branca da janela e assim, espia a sala da antiga casa de madeira com janelas, portas e lambrequins azuis. O som do “tic - tac” dos nove relógios de parede envolve a sala em uma atmosfera de mistério, como se as paredes, móveis, louças, tapetes e telas estivessem em sintonia com os insones ponteiros, parecendo que a tudo observavam e cuidavam.

Num canto da sala, sentado em uma poltrona de veludo verde, um senhor que aparentava ter uns 80 anos, mantinha os olhos semiabertos, e nas mãos segurava um livro aberto... Ah, essa passagem inevitável do tempo; a criança, o jovem e o adulto juntos, convivendo e mantendo vivas as lembranças, os segredos, feito um pescador que conhece cada centímetro das tramas de sua rede.

A noite ainda curiosa e atenta em todos os detalhes permite-se aconchegar-se à sala e imagina, se o sonolento senhor seria um colecionador ou relojoeiro, e com atenção e técnica ouviria o respirar das delicadas e precisas engrenagens.

Na ausência de passos e de conversas, a cadência e os sussurros dos insones ponteiros – espadas – de incólumes guerreiros que permanecem, regendo a presença das marcas do tempo, encantados e incansáveis segundos que escapam entre os dedos...