ECONOMIA (ATÉ?) FEDERAL

Papo furado de "trauma de infância"........ Pobre tem isso?!

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EU não sei como é que isto funciona, mas a cadeia alimentar... (foi engano)... a necessidade de compra deve ser assim:

moça que toma conta do banheiro feminino / encarregado de almoxarifado / militar iniciante / cabo (...) / capitão (...) / comandante geral. E depois da "prosa" (recados), o verso ou inverso: comandante geral ; (...) capitão etc. Mais ou menos isto. Bom, modernamente deve ser e-mail, não mais recadinho escrito, o conhecido 'ofício'.

Estava acabando o estoque de papel higiênico, necessaríssimo (já há décadas fim do secular pedaço de jornal velho espetado num prego vagabundo) e não poderia haver desperdício algum. Licitações demoram a ser concluídas. Isto foi observado muito a sério num hospital militar federal, no Rio de Janeiro. A responsável ou encarregada pelo setor pendurou vários rolos de papel, um em cada reservado, onde ficam os vasos sanitários. (Vaso? Lembrei!!! Estou devendo uma rosa a uma gentil AMIGA.) Uma usuária bonitona, loura de farmácia, olhou-se no espelho da parede, resmungou alguma coisa, certamente "Espelho, espelho meu, haverá alguém mais tudo que EU?" - sorriu sozinha e correu três reservados, todos limpíssimos, antes de se decidir por um deles. Meio minuto. Foi embora. A encarregada achou a atitude muito estranha e foi espiar, após a saída desta elegante moça, "O quê? Levou os três rolos de papel. E pior: inteirinhos?!"

Comunicou a um dos militares novatos e este interfonou (verbo 'novinho em folha', como se diz popularmente) para a portaria perto da calçada - descreve a roupa da pilantra (porque as palavras "clara alta" implicariam em 'ruído na comunicação') em detalhes: vestido apertado todo vermelho, cinto de metal dourado, botas brancas até os joelhos. E muita maquilagem. Mais que princesa. Pose e andar de rainha. Fácil. Daí em diante, ELA que passasse a usar jeans comum, camisa de malha branca sem desenhos e sandália fuleira de borracha... Uma fêmea entre milhões, bilhões, sei lá... E que não a avisassem do assunto.

"Dirija-se à portaria de entrada do prédio" (não teve 'por-favor-senhora').

ELA voltou. Elegante bolsa Vutton com cara de importada, agora um tanto deformada pelo conteúdo anormal. Sargento foi até muito educado, segurou-lhe o cotovelo de um braço perfumado a Chanel n. 5 legítimo (tradicional desde 1921: o mundo inteiro sabe que, muitos anos mais tarde, duas gotas era o único "traje de dormir" de Marilyn Monroe), e conduziu a dama feliz e sorridente a uma salinha discreta. Falou demoradamente de gastos públicos, a expressão clássica 'o-dinheiro-dos-impostos-do-povo' e blá blá blá, Por fim, pediu que ELA abrisse a bruaca (ELE, gaúcho) e devolvesse o que talvez tenha pego... por engano. (Nada disso, leitor, não defenda: a "ilustre" dama não empalideceu nem desmaiou, como personagem frágil de ALENCAR ou MACHADO). ELA esbravejou, mais para o realismo 'corticiano' de ALOÍSIO AZEVEDO. Disse bem alto uma feia expressão de três palavrinhas: quatro, três, cinco letras - ELA iria chamar o marido, médico neurologista, alto oficial etc. O sargento sorriu bem calmo, pelo nome conhecia bem o referido senhor. Educado, fino, brincalhão com todo mundo. Veio o marido. Em choque! Não teve cerimônia alguma, tomou furioso os rolos de papel, intactos, de dentro da bolsa, devolveu e em gritos limitados exigiu que no dia seguinte se "reabilitasse". O clássico olhar mudo: "Em casa, conversaremos."

No outro dia, ELA compareceu empurrando, atrapalhada, três grandes carros tipo de supermercado, cheios de brinquedos novinhos, ainda com selo da loja, a serem entregues à moça do banheiro que presidia uma ONG beneficente. E com muita vergonha: "Paguei do meu bolso. EU sou (grande suspense)... assistente social. Juro!"

O quê?

E como em conto de fadas, a bruxa se regenerou, virou fada-madrinha e passou a visitar mensalmente a comunidade pobre perto do hospital, agora no traje comum de... sandália rasteira... pois é... não preciso escrever novamente.

Aprendeu a lição. Aqui se faz, aqui se paga (duplo sentido mesmo).

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NOTA DO AUTOR:

BRUXA - A partir do momento em que a fada passa a ter comportamento negativo, trabalhando para o mal das pessoas, transforma-se em bruxa (=crença de origem cristã - anjo com o poder do bem; vaidoso, passa a ser demônio, com o poder do mal. O reverso da fada é a bruxa, face frustradora do ser humano, que corta o fio do destino, e frustra a realização do ser. - FONTE rapidinha: COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil. SP, Ed. Quiron, 1984.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 17/05/2019
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