Os garotos e os corpos docentes

Dizem que pelo menos uma vez na vida, todo homem quando garoto se apaixona por um corpo docente.

Comigo não foi diferente...

Ela não era exatamente minha professora, embora todos nós a chamássemos como tal. Na verdade, não sei ao certo o que ela era. Talvez pedagoga, orientadora, algo assim...

Mas com certeza era fantástica e fez parte dos meus pensamentos durante todos os anos em que convivemos.

Era uma mulher astuta, rígida, severa mesmo. A vida transforma o agir das pessoas e hoje não sei se continua sendo assim. Mas em minhas lembranças, eternizou-se assim.

Ela tinha lindos cabelos de coloração rara. Tinha também um sorriso muito discreto, que de tão discreto, pouco se via. Mas eu lembro muito bem.

Todos a chamavam de professora Gilma. E eu também.

Dentro da minha cabeça a chamava somente Gilma. Mas sua postura era categoricamente austera, não permitia qualquer intimidade.

Outra boa lembrança que tenho é da sua voz. Era uma voz repleta de energia, uma voz autêntica, uma voz que se impunha. Uma voz que não deixava a desejar, diante de todo o conjunto da obra.

Mal sabe ela, talvez nunca imaginasse, que eu adorava cada xingamento, cada castigo, cada momento de austeridade dela sobre mim. Adorava ver aquela mulher exercendo seu poder, exteriorizando aquela postura tão estoica. Talvez fosse por isso que eu ia tantas vezes para a sua sala.

Essa foi minha história sobre apaixonar-se por uma professora, se apaixonar por uma mulher de mais primaveras do que eu, ter uma paixão impossível na adolescência.

A minha história com a professora Gilma durou por quase cinco anos. Dentro do meu mundo, é claro.

Imagina como é o mundo interior, a imaginação, os pensamentos de um adolescente aflorando os sentidos e as percepções do mundo.

Não havia um só dia que não ficasse por horas imaginando histórias. Onde Gilma era minha namorada e saíamos passear no Palio que ela tinha; Posteriormente passou a ser minha esposa. E os momentos em que ela se enfurecia comigo na vida real, só aguçavam mais a minha idealização imaginária.

Tinha vontade cumprimenta-la com um beijo quando chegava à escola, e de perguntar se ela havia dormido bem. Mas acabei me tornando o último tipo de aluno de quem ela se aproximaria.

Nunca mais a vi, desde que saí do colégio. Mas guardo essa história para um dia contar a ela.

Rafhael Morcego Franco
Enviado por Rafhael Morcego Franco em 06/06/2019
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