CULTURA POP JAPONESA

1---PASSADO REMOTO - O mais surpreendente das HQ japonesas é a extensão, em geral uma série 'mangá' chegando a 10 volumes, 200 páginas cada. Mas o destaque nos super longos são os históricos, lidos ano após ano, ao longo das gerações. A série "História do Japão em Quadrinhos" (Manga Nihon-no-Rekishi), de ISHINOMORI SHOTARO, compõe-se de mais de 10.000 páginas - 55 volumes de História, da antiguidade ao presente, encontrada em muitas bibliotecas escolares. Interesse particular dos leitores pelo Período dos Estados em Guerra (1467/1568), anos finais do Xogunato Tokugawa e a subsequente Restauração de Meiji (1868), quando homens e mulheres assumiam dimensões heroicas. ODA NOBUNAGA, TOYOTOMI HIDEYOSHI e TOKUGAWA IEYASU foram três comandantes militares que atuaram no Período dos Estados em Guerra - aparecem nas obras de alguns dos melhores autores de mangá do Japão - há autor que descreve pessoas comuns daqueles tempos. A figura histórica de maior interesse é SAKAMOTO RYOMA (1836/1867), inspirando leitores pelo êxito que teve em unificar as várias forças contrárias ao xogunato, sua enérgica promoção do livre comércio e sua visão liberal; o fim trágico o transforma em herói - os inimigos dele também aparecem nos mangás de autores muito talentosos e mais recentemente na série "Shinsengumi", sucesso garantido entre os aficcionados em História. O Período e a Restauração formam igualmente o pano de fundo para outros gêneros de mangá , desde quadrinhos para meninas até estórias cômicas, períodos também retratados em outros meios de comunicação - televisão, cinema e romance. Os mangá históricos abordam, além disso, a história mundial, por exemplo a Revolução Francesa e a História de outros países, desde pontos de vista singulares - Algumas obras são traduzidas e publicadas no exterior: estórias de heróis e heroínas do passado sempre farão sucesso em qualquer parte do mundo. ///// 2---PRESENTE - Há uma frente onde todo o continente asiático é figurante se comparado aos japoneses: o Japão é pop e o mundo consome tudo que tem a etiqueta "made in Japan". Animês (animação em japonês), mangás (quadrinhos) e videogames são os maiores exemplos da força da CULTURA POPULAR japonesa - a exportação do pop atravessa gerações: sushis e temakis, karaokês e cosplay invadiram culturas alheias e hoje já ninguém 'lembra' de onde vieram... Moda, arquitetura e cinema também são terrenos em que os japoneses se destacam. Esse poder consolidou um conceito usado por analistas para definir uma nova maneira de se enxergar o país: "Cool Japan" (Japão Bacana). A partir da década de 80, país reconhecido como a superpotência que superou a derrota na II GM, tornando-se símbolo de desenvolvimento. "Nesse mundo polarizado, o pop japonês tem papel importante de divulgação da cultura, sendo também uma grande fonte de recursos econômicos", afirma DAISUKE OKEDA, diretor da Associação Japonesa de Criadores de Animação. Demorou, mas o governo finalmente "acordou" para esse potencial e patrocinou eventos internacionais de animês, mangás, séries exportadas para diversos países, personagens de olhos imensos e alta dramaticidade. Os jovens se preocupam com questões existenciais, fenômenos universais abordados de maneira atraente em mangás e animês. Nas ruas de Tóquio, cabelos espetados dos personagens de HQ e séries televisivas até em adultos, moças em visual que mistura inocência e erotismo, marca dos desenhos japoneses, aviões comerciais decorados com Picachus... Nomes importantes do cinema americano se inspiraram nas estórias japonesas. O bairro de Akihabara, muito colorido, é a meca dos eletrônicos e dos fãs de animês e mangás em Tóquio. Na adolescência, o hoje consagrado escritor MURAKAMI foi um 'otaku', fanático por desenhos. ///// 3---FUTURO - Cantora, cabelos azuis-turquesa, longas madeixas presas em marias-chiquinhas, corpo mignon (42 quilos, 1.58), 16 anos, cada vez mais fãs... Mas não existe de verdade: criada em computador com 'voz' em inglês, ampliando os horizontes da música japonesa. HATSUNE MIKU, nascida em 2007. Vozinha infantil, visual de colegial (fetiche universal), rebolado adulto um tanto desajeitado, milhares de espectadores em seus shows, mínimo de 160 mil pessoas, milhões na Internet. Estilo de mocinha que pode cantar qualquer gênero musical já ultrapassou fronteiras, porém... e a personalidade que aumenta o fascínio dos fãs? O programa de computador não impede reverências como princesa pop. Fenômeno da adoração por ídolos visuais - ela não fala, só canta; não dá autógrafos, não dá entrevistas, não se envolve em escândalos, não submissa a agentes, ó, mas tem página no Facebook Parece real, movimentos perfeitos, porém artificial, não artifícios para parecer mais velha ou ser gente - holograma em 3D, banda de músicos reais. Em Los Angeles, na Expo Anime 2011, seis mil participantes sacudiam bastões de neon, berrando seu nome histericamente e 'cantando' as letras "em" japonês, muita gente em roupas como a dela, no repertório a música "The world is mine" - da fato!... A empresa CRYPTON FUTURE MEDIA, sede na cidade de Sapporo, a explica: é um software musical, o nome significa "primeiro som do futuro" e permite que os usuários /ela não tem autor preferido/ criem músicas para a virtualzinha cantar, graças à tecnologia Vocaloid (vocal + android), sintetizador da Yamaha. Embora não fale em números, a Crypton está faturando: produtos licenciados com a figura da divazinha andróide, cujo rosto foi desenhado na sonda espacial Akatsuki, projetada para pesquisas em Vênus. HATSUNE não é um desenho animado e inspira moda e tecnologia. Entretanto, música pop 'japa' faz sucesso na Ásia, mas sem a repercussão das outras manifestações culturais - quadrinhos (mangás) e desenhos animados (animês). Famosa, sim, mas também sofre por amor, não correspondido - em "The World is Mine", ela confessa: "Sou a princesa número um do mundo. Mas me pergunto se algum dia você me olhou."

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NOTA DO AUTOR:

COSPLAY (inglês) - junção da palavra costume (fantasia) + roleplay (brincadeira ou interpretação - hobby onde os participantes se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop japonesa; termo usado no original é empréstimo linguístico

FONTES:

"Mangá históricos - quadrinhos de todas as épocas" (trimestral, multilíngue), artigo de YONEZAWA YOSHIHIRO - Tóquio, Ministério de Assuntos Exteriores, n. 13, 15/6/2000 --- "Japão joga as fichas no mundo pop", artigo de CLÁUDIA SARMENTO --- Rio, jornal O GLOBO, 31/1/10 --- "Hatsune Miku", artigo de CLÁUDIA SARMENTO - Rio, revista O GLOBO, 11/9/11.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 29/06/2019
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