Os RESPINGOS de chuva que escorriam pela janela pareciam dar vida à sua dor. Desde que Laura partiu, o seu coração também acabou dilacerado. Nunca imaginou que ela pudesse deixá-lo, depois de todas as travessuras vividas desde que eram ainda adolescentes. Se conheceram no Teatro Boca de Cena. Debutaram juntos no Romeu e Julieta, cujo fim trágico não tirou deles o brilho no olhar, até que se juntaram como se fossem tablado e artista. No quarto que dividiam até a última sexta-feira do mês passado, estava ainda a sua escova colorida com strass prateado que tanto implicou pela “peruíce” e estava também a última conta do cartão de crédito a pagar no dia sete. Número do infinito que representava a data que se conheceram. Na cabececeira, a única lembrança material: uma caixa com a PRENDA que ela pescou na festa junina tradicional da família. A sua maior RIQUEZA havia perdido quando se entregou aos desejos da carne. Não havia perdão que o libertasse da dor que carregava no peito. Afinal, arrependimentos não trazem de volta tesouro perdido. Seu PALCO agora era aquele quarto escuro, vazio, triste e a sua atuação se restringia à acender um cigarro, olhar a água escorrer pela janela e chorar como se o seu mundo tivesse acabado, porque era isso que via no reflexo do espelho: a sua ruína em forma de remorso com os olhos fundos e uma alma vazia. Ele, olhando pra si mesmo, verbalizou: - Merecido, Pedro! Apague a luz e durma na cama que é lugar quente. E o seu cigarro apagou.

Desafio: Contos- 18 linhas (Arial 12)- Motes: Palco- Prenda- Respingos- Riqueza
(Conto Indireto)

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 02/07/2019
Reeditado em 03/07/2019
Código do texto: T6686650
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