PRECONCEITO - PARTE III

1---De repente, demissão coletiva, ELA na lista. Sem (ou com?) trocadilho? Gráfica mais conhecida porque confeccionava listas... telefônicas. "Eu trabalho na Lista..." É, tra-ba-lha-va. ----- Vinte anos de idade e alguns meses. Residência em subúrbio, perto da avenida Brasil, beleza /Rio, entre mar e montanha/, praia de Ramos bem limpa na época, dava para ver torneio aquático entre peixes miúdos e siris. Do outro lado, a Ilha do Governador (aeroporto internacional já existia). A filha da vizinha, 3 aninhos só, não era muito chegada a prato de comida... o pediatra deu umas dicas - praia, entrar muitas vezes na água, correr na areia, flexão enchendo a mãozinha com areia e esvaziando em pé, suco de laranja azeda sem açúcar, 'ah-vai-sentir-fome-para-o-almocinho-ah-claro-que-vai'. (Quem disse que deu certo?) Assim, sob esse pretexto solidário, fazer companhia à mãe da criança, mar da Baía de Guanabara quase todas as manhãs! Manteiga de cacau no corpo todo, para ajudar o bronzeamento, tabletinho de farmácia. Relativamente perto de casa, iam e voltavam a pé. Poucas pessoas ao redor, no areal, e um salva-vidas reunindo garotada miúda no barco a remo. Entre 2 de janeiro e 30 de junho. (A vizinha viajou com marido, filha e uma sobrinha para a Ilha da Madeira, três meses na praia de "lá"!) ELA fora pouco a pouco adquirindo uma tonalidade que chegou a um marrom intenso. Sem inventar ou exagerar - comerciantes do bairro a conheciam, também o pessoal da feira-livre semanal, nunca maltrataram; o oposto em outras localidades, vendedores das lojas vigiando discretos ou negavam vender determinada mercadoria, rejeitada "negra" em três vagas de emprego em escritório (adora papel) - percebeu, discursou muito, citou e ensinou Lei Arinos; taí, daria excelente advogada ou útil lider feminista. ----- Cor pré-escolhida para lidar com números?! Sem trocadilho, sentiu a problemática na pele. depois, 'desbotou' gradativamente. Emprego em agosto numa empresa sueca.

2---Nova residência. Tão "delicadinha" que conseguiu empurrar com a coxa direita uma pesada mesona de centro, prateleira no meio carregada de livros, dor desesperada na hora, torção muscular de não-gravidade. Semana da Feira da Providência e ELA com dificuldade para caminhar, ainda resquício da dor. No carro, três primos (dois adultos, um menino) e ELA. Pior, um guarda indicou caminho errado e acabaram semi perdidos, a fulana sentada há muito mais tempo que o previsto, agora em estado de cãibra. Sair do carro, saiu, conseguiu andar amparada, devagarinho, rindo muito, do estacionamento até a entrada do tal pavilhão. Um rapaz atencioso, jaleco e crachá, ofereceu cadeira de rodas e o primo mais velho, ao contrário de trazer a cadeira até ELA, súbito carregou-a no colo e depositou o "pacote" na cadeira. Primeira gentileza: não-cobraram-a-entrada-dela e ainda ganhou (piedade?) uma rosa vermelha......... Ambiente cheião, porém abriam passagem, solidários. Como de repente "ficar em pé" em 'milagre' falso? Jamais. (Há anos são bastante comuns em nosso país grandão esses espetáculos ilusórios, fantasiosos, teatralíssimos de pagar o dízimo, depois "orou-com-fé-andou-falou-enxergou-ouviu"... e minha AMIGA nestas horas lamenta a ausência no Brasil de forca, sabre amolado ou cadeira elétrica para os ilusores do povo........) Pois acabou tendo que bancar a deficiente o tempo todo: magnífica experiência emocional! Na barraca do Japão, peito à altura do balcão das camisetas - bom, delicadeza nipônica já é velha característica, citar é pleonasmo. Nos demais estandes, atendimento delicadíssimo, atenciosíssimo, prioridade. Refletiu - bairro nobre, frequência humana de média para alta, bolsas "gordas". Outro bem diferente contato entre as pessoas que se sentem de igual para igual. Mesmo ambiente, na churrascaria foi a primeira pessoa receber prato e talheres. Pipisório? ELA mesma dirigiu a cadeira na direção do banheiro feminino, levantou "com muita dificuldade"... o mulherio desconhecido ajudando.

3----Conclusões filosóficas: A) E se no passado a praia tivesse sido Ipanema? E se na segunda ocasião a cadeira de rodas fosse numa comunidade pobre? Melhor e mais decente apenas concluir no pensamento, sem falar ou escrever. B) Não exata enumeração caótica ou assunto 'anexo', mas entre uma fase e outra da vida, ELA cursou excelentemente (repeti porque foi assim que aconteceu) faculdade federal instalada numa construção pré-fabricada, madeira. Versão debochada e despeitada de inimigo invejoso de que ELA estudou... num "barraco". Pois é, mas centro da cidade, lado a lado com o Convento (barroco secular) de Santo Antônio. SARTRE disse: "O inferno são os outros." Melhor e mais decente apenas (censurado).........

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NOTAS DO AUTOR:

FEIRA DA PROVIDÊNCIA - Criação de Dom Helder Câmara, em atividade desde 1961 tradicional evento anual, novembro ou dezembro, arrecadando recursos para diversos projetos sociais do Catolicismo. Atual espaço de 35 mil metros quadrados, no Rio Centro, cerca de 500 estandes de expositores de outros Estados e países. Solidariedade......... e compras!!! // COMUNICAÇÃO VISUAL: Para esta feira, excelentes cartazes de propaganda desenhados pelo artista ZIRALDO.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 28/07/2019
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