Existenciais detalhes

Ele caiu na terra. Vindo de áreas longínquas, siderais. De lá, até aqui: Cascatas de cometas; lençóis estrelares, e a via láctea. Impelido pelo seu pai; polo ativo criador. Pousou diretamente no ventre de uma mulher; sua mãe. Fora ela quem lhe dera à luz, a luz solar, a luz do mundo.

Cresce, descobre as grandezas e as forças da natureza, a matemática dos sentimentos primeiros, e o valor da experiência.

Em determinado momento questiona-se sobre o solo onde ele próprio germinou, o nega, o açoita, e parte para preparar e descobrir o solo ideal, seu verdadeiro solo.

Neste processo, inevitavelmente sua bagagem começa a acumular: primeiro uma estatueta de uma mulher nua, que o lembra de sua geradora; depois uma coruja suporte para velas, que serve como base para o exercício de sua fé; cadernetas, contendo reflexões e registros dos mais variados tipos; e assim por diante. Todos os objetos atrelados a ele no decorrer de suas experiências pela vida, e que, se não dizem quem ele é, o lembram de quem ele foi, em qual lugar, como, e com quem...

O tempo decorre, ele já com seu plantio feito, tendo mulher, filhos e netos, vislumbra o quão grande está sua bagagem, proporcional ao quão frutíferas foram suas experiências, suas alegrias e tristezas, descobertas e redescobertas, certezas e incertezas.

Ele tange suas memórias através dos objetos que guardou, que as evocam em sua alma. Sente o peso, por esse viés, da vida e da existência. E, finalmente, compreende a similitude entre os caminhos, e os modos de sua construção, no ponto culminante de um novo começo: o final da vida.

(Escrito em 30/08/10).