OUTRA CARTA PARA K

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“K.”

De: “F.”.

Sei que já se passaram dois anos…

E sei que nos prometemos - desde quando éramos pequenos... - que sempre passaríamos nossos aniversários juntos. O problema do afastamento, é que quanto mais o tempo passa... com mais vergonha a gente fica de procurar as pessoas que deixamos pra trás. Sei dizer isso não justifica absolutamente nada, e talvez até piore. "Tentar consertar... Piora ainda mais.", você me disse uma vez. (Até hoje eu sempre acabo citando suas frases…).

Logo nos primeiros três meses depois de nosso último contato... “C.” voltou a cheirar cocaína e me bateu algumas vezes. Não com força suficiente para me machucar e eu acabar tendo que ir prum hospital (e receber aquela usual sugerida de médicos, enfermeiras e assistentes sociais... de fazer ocorrência contra meu marido). Sempre no dia seguinte eu o encontrava arrasado, caído no chão, bêbado, aos prantos e pedindo desculpas... E eu acabava cedendo. Eu nunca consigo NÃO ACREDITAR NELE, “K.”! Vejo uma bondade em “C.”, que sei que ninguém mais consegue enxergar.

No réveillon de 2012 pra 2013, toda essa “bondade”, foi embora de vez... E ele me bateu de verdade. Na verdade, eu só pude separar (em minha cabeça, em meu corpo) o significado de "Bater de Leve" de "Bater DE VERDADE", depois daquele réveillon. Antes que você se pergunte. Sim: eu estou com ele ainda. Se não estivesse, já teria passado aí pra te ver... Mesmo não sabendo exatamente aonde é "Aí"… Onde você está… Ou se você quer mesmo me ver. Em dois anos tudo muda… Diversas coisas perdem o sentido.

Como vai você, “K.”? Você ainda me considera da família? Você está como? Quero dizer, completamente? Fisicamente, emocionalmente… Bebendo muito ainda? Fumando? Profissionalmente (você estava fazendo faculdade de filosofia na última vez que te vi, mas já era a terceira faculdade que você estava fazendo, eu sempre disse que a vida acadêmica não era pra você). Amorosamente? (você tinha terminado com “L.” já há uns quatro ou cinco meses, mas você ainda o amava, notícias dele? Vocês Reataram?).

Eu queria te dar apenas esta BOA notícia, “K.” EU JÁ SOU MÃE! um menino lindo e o nome dele é aquele que sempre quis. Você se lembra?! Ele vai fazer um ano no final do mês que vem... Mas seria hipocrisia dizer que estou feliz… E plena, por causa do meu filho… Pelo contrário, ter um filho com “C.”, só me torna ainda mais refém de toda a situação. Os espancamentos continuam e parece que pioraram com a chegada da criança (eu queria que você soubesse o nome dele, queria que você tivesse sido padrinho dele). Eu tento amá-lo plenamente, sendo ou não, feliz, com “C.”. Mas – entre nós… - não consigo amar direito o meu filho, porque não consigo deixar de sentir medo. Nem um dia sequer... Para onde eu iria?! Já não tenho mais nada, “K.”!

“C.” me isolou do mundo inteiro.

Eu não trabalho, minha família não me aceitará pois mandei todos tomarem no rabo, quando estava apaixonada, acreditando que jamais precisaria deles de novo. Puts, K! E AGORA??! Se eu soubesse que apesar de tudo eu ainda tenho você… Por favor, tenta (ao menos) me responder... Por favor, tenta não ter raiva de mim…

Com amor… “F.”.

Obs.: (um E-mail desconhecido chegará com fotos do bebê).

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(continua)