Quando a surdez é a última palavra

Convidados pelo tio Carlos à casa de praia no outeiro, para passar uns dias. Alberto, sua mãe, Marília, Arthur e Iza foram com a felicidade no rosto.

Lá chegando, levados pelo tio começaram as hilariantes situações. Arthur apertado para ir ao banheiro pergunta ao tio:

- Onde fica o banheiro?

Talvez pela hereditariedade do seu pai, ou quem sabe pela idade avançada, a capacidade auditiva do tio deixa muito a desejar, embora ele não admita. Seguiu falando num tom de voz alto, típico de quem sofre desse mal, o ti o responde:

- Meu filho, você segue direto, dobra a esquerda, pega a rua central e depois de umas quatro casas pega a direita e segue até a praça central. Lá chegando é só seguir em frente, que você vai ver a praia.

Arthur respondeu meio confuso:

- Que!... Não tio, só quero ir ao banheiro.

O tio e todos os que estavam ali riram bastante do episódio.

Em seguida, após a instalação dos hospedes, ele ainda rindo do fato anterior se despediu de sua irmã, Maria, que é a mão do Alberto, se despediu de todos e foi-se.

Quase na sequência dos fatos anteriores, Arthur vinha saído do banheiro, quando a sua mãe, dona Iza disse:

- Volte e tome banho.

E o garoto respondeu:

- Mãe só vim pegar a toalha e o sabonete para voltar ao banheiro.

Dona Maria da Graça, que estava mais próximo do menino entendendo as coisas de forma atrapalhada, pois os outros ainda comentavam da surdez do tio se expressou:

- Olha Iza, que o Arthur disse; ele está falando que só vai voltar ao banheiro para não ouvir a tua voz.

Na pausa do absurdo, pois o menino nada dissera do que a sua avó falara, ninguém se aguentou e riram de novo.

Nada que uma surdez se fizesse presente ao natural naquela senhora, que além da idade era irmã do tio, que a pouco os deixara.

Mais tarde, com o almoço disposto na mesa Alberto, o filho de dona Graça foi até o quarto, onde ela se encontrava ainda desarrumando as suas coisas para guardar e falou um tom acima do normal, para compensar a surdez:

Mãe, deixe isso e venha logo almoçar, para depois a gente descansar um pouco da viagem.

E ela, em função da surdez respondeu exaltada:

- Olha aqui Albertinho, não grite comigo. Me respeite que sou a sua mãe.

Aí foi para ninguém aguentar, pois Marilia a neta e Iza, que estavam ao lado a acalmaram rindo e dizendo:

- Não dona Graça ele não está gritando com a senhora só lhe chamando para o almoço.

Nesse compasso de novo eles riram e dona Graça rindo também pediu desculpas ao filho.

Horas depois, já degustado o almoço e todos aproveitando a serenidade do local na rede, enquanto a chuva da tarde caia sem parar, Marília e Arthur discutiam sobre o futuro, falando das cores dos seus quartos, quando do nada, pois todos pareciam estar ferrados na cesta dona Graça, feito alma penada interpelou:

- É né Arthur, depois você diz que eu sou a velha surda. Você falou amarelo.

Ai da discussão dos dois, mais aquela fala da avó virou gozação, com risos que até acordaram Alberto e Iza Marília falou:

-Não vó. Agente estava falando da cor verde.

E ela finalizou dizendo:

- Ah meu Deus, como estou.

E se rendendo aos fatos completou:

- Meu filho semana que vem me leve ao Otorrino, que estou pior que o Carlinhos.

E a noite caindo calma com a chuva, se desfechou em risos módicos.