O Conto de Zé Pretinho - Uma história da Jurema Sagrada

Por muito tempo da minha vida eu andei por aí, cego pela minha própria treva e pelas minhas dores. Andei pelos bares e pelas ruas e nas vezes eu pensava que tinha me achado é que eu via que só estava mais perdido. E acho que foi por isso que eu me acostumei a me embriagar de bebida e de fumaça. De corpos e de perfumes. De bocas cheias de desejo tanto quanto de mentiras. Mas essa é uma história que não tem muita graça, de tanto que eu já contei nos meus escritos.

Hoje eu tenho vontade de contar uma história diferente, mas talvez por ironia esse conto, vai começar bem parecido com todos os outros que eu já escrevi.

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Confesso que não sei como eu tinha chegado naquele ponto. Mas me peguei no meio da noite, vagando bêbado por mais um dos meus descaminhos, e sem me preocupar realmente em chegar a algum lugar.

Não me satisfazia com a companhia de outras pessoas e muito menos me sentia bem estando sozinho. Caminhar a esmo era a forma que eu tinha de esvaziar minha cabeça de todo o tipo de pensamento. Quando os meus pés doíam, era mais fácil de esquecer a dor do meu peito.

Depois de andar por uma boa parte da madrugada, percebi que estava há poucos metros da minha casa, e então resolvi dar a noite encerrada.

Nesse momento eu olhei pra cima e vi o céu carregado, como se toda a angústia do mundo estivesse a ponto de desabar sobre a cidade. Antes que eu pudesse me dar conta, a chuva começou a cair e tentei me abrigar embaixo de uma marquise. Mas o vento carregava as gotas, que quebravam contra o meu rosto como se fosse uma cachoeira.

Minha casa estava do outro lado da avenida e três quarteirões à minha direita. Tirei meus óculos que estavam com as lentes ensopadas de água, a ponto de eu me sentir quase cego e olhei para o lado, com meus olhos míopes, vendo se era seguro atravessar. Não sei por que só olhei para um lado, e quando já estava no meio da rua, ouvi uma voz vinda de trás.

- Cuidado, Nêgo.

Parei imediatamente, e só então percebi um carro passando disparado bem à minha frente.

Teria me acertado, por certo, se eu não tivesse parado.

Atravessei então, para o outro lado da rua. E vi que vinha me seguindo um homem todo vestido de branco, com um chapéu preto na cabeça.

Me abriguei embaixo da marquise da loja que ficava embaixo do meu apartamento e ele se postou ao meu lado.

Quando chegou perto, pude discernir melhor suas feições, apesar de hoje, não lembrar com clareza do seu rosto.

Era um homem que devia ter em torno de trinta ou quarenta anos. Era negro e tinha uma barba volumosa, com alguns fios brancos aqui e ali.

- Obrigado Senhor. Quase que eu me lasco com esse carro.

- Não foi nada, Nêgo.

- Acho que bebi demais.

- Ah, meu fio. Eu já fiz demais isso em outros tempos. Mas isso ficou pra trás.

- Preciso tomar mais cuidado mesmo.

- Você tem quem te guarde meu fio. E quem te guarda nunca dorme. Deus te abençoe.

Fiquei sem saber o que dizer e só balancei a cabeça em concordância.

Virei à esquina e abri a grade do meu apartamento. A chuva não dava trégua, e o senhor ainda estava parado na esquina, me olhando, como se não se importasse com o aguaceiro.

Quando olhei para a escada, uma das minhas gatas desceu perto de mim e miou como se estivesse me dando boa noite.

Olhei para trás e percebi que o homem ainda estava lá.

- O Senhor não quer entrar e esperar passar a chuva? – Perguntei, sem saber por que tinha perguntado aquilo. Eu morava sozinho e o mundo não era um lugar muito hospitaleiro para se convidar desconhecidos para dentro de casa no meio da madrugada. Mas naquele momento, pareceu o certo a se fazer.

- Se você está me chamando de coração, meu Nêgo, eu aceito sim.

- É de coração sim senhor.

Ele sorriu e veio com um passo lento até onde eu estava. Subi a escada e ele entrou atrás de mim.

- Com sua licença. – Ele disse, logo que passou para dentro. Tranquei a grade e ele esperou que eu terminasse para seguir atrás de mim até a porta de madeira que separava a escada da minha sala.

Eu abri e ele fez o sinal da cruz antes de entrar. Tirou o chapéu e ficou segurando na mão esquerda.

- Fique à vontade, senhor. – Eu disse.

Ele entrou e foi direto para um altar que eu mantinha no canto da sala. No altar eu tinha a imagem de São Miguel Arcanjo, de quem uma das minhas tias, irmã de minha mãe, era muito devota, e a quem ela sempre pediu proteção para mim. Como ela havia me criado e tinha falecido há alguns anos, ter a imagem do santo a quem ela tanto orava, era uma forma de eu sentir sua presença perto de mim, o que era um pequeno consolo, ante a falta imensa que eu sentia dela. No altar eu também mantinha imagem de Zé Pelintra, uma entidade a quem eu tinha me apegado muito e de quem sempre gostei de ler as histórias de suas façanhas e ensinamentos. Apesar de serem de origens diferentes, as imagens conviviam pacificamente junto à uma vela que eu mantinha acesa mais por hábito do que por fé religiosa. Atrás das imagens, havia uma garrafa de Uísque barato e uma de Rum. O Rum era meu, e o Uísque era de seu Zé Pelintra, ao qual eu tinha oferecido por uma graça tinha obtido no carnaval passado.

O homem se postou de frente ao altar e fez o sinal da cruz.

- Louvado seja Nosso senhor Jesus Cristo. Salve Jurema Sagrada. Salve seu Zé Pelintra.

Depois ele sussurrou algumas palavras que não consegui entender e se voltou para mim com um sorriso.

- Como eu disse, meu fio. Quem te guarda nunca dorme. – Falou apontando para as imagens no altar. Não consegui discernir para qual das duas ele apontou exatamente.

Novamente me peguei sem saber o que responder e apenas falei, por medo de ficar calado.

- Pode se sentar no sofá. O senhor quer uma água? Tenho uma cerveja na geladeira.

- ô Meu nêgo. Eu ficava feliz com um gole do Marafo de seu Zé. Tenho certeza que ele não se incomoda.

Eu sequer tinha dito que a bebida era da entidade mas talvez não fosse muito difícil de perceber isso.

Fui até a cozinha, com dois copos americanos e os enchi do úisque até a metade. Ele bebeu de um gole só e sussurrou.

- Saravá seu Zé Pelintra.

- Saravá seu Zé. – Eu respondi.

Logo em seguida tirou um cachimbo do bolso e perguntou.

- Meu fio se incomoda de eu acender o meu cachimbo?

- Pode fumar, senhor. Não me incomodo não.

Ele acendeu o cachimbo na vela que estava no altar e começou a soltar fumaça. Como se estivesse soprando em vez de tragar. Depois que eu quase não conseguia mais ver seu rosto, ele finalmente começou a tragar e perguntou.

- Tu tem religião, nêgo?

- Não tenho não senhor. Mas sou de família católica. Pro lado da umbanda eu sou mais enxerido. Por isso meu apego com seu Zé.

- Ah Nêgo. Ninguém precisa de religião não. As pessoas precisam de Deus. E Deus tá em todo lugar. Inclusive dentro de tu. Mesmo que tu não ache isso. – Ele falou, apontando o cachimbo pra mim.

- Acho que o senhor está certo.

Ele só deu um sorriso e eu tomei um gole da minha bebida.

A chuva continuava caindo do lado de fora. E um vento frio carregado de gotas de água entrou pela janela. Corri para fechar, e quando voltei a minha atenção para o homem, percebi que minha gata preta estava deitada do seu lado. Enquanto ele lhe fazia carinho na cabeça. O que era engraçado, pois essa gata não costumava gostar muito de outras pessoas além de mim.

Me sentei na ponta do sofá e fiquei observando o homem fumar.

- Percebi agora que eu não perguntei o nome do senhor.

- Eu tenho muitos nomes meu nêgo. Meu nome terreno é José Quirino. Mas há muito tempo que não me chamam assim.

- E como lhe chamam então?

- Posso falar cantando, Nêgo?

Balancei a cabeça afirmativamente, mesmo sem entender muito bem o que ele queria dizer.

Ele sorriu, se levantou, botou o chapéu na cabeça e começou a cantar.

- Sou Zé Pretinho não nego meu compromisso

Sou Zé pretinho não nego meu compromisso

se precisar me chame

que lá eu me afirmo

se precisar me chame

que lá eu me afirmo

Sou Zé Pretinho, moço do chapéu virado

Na direita eu sou maneiro

na esquerda eu sou pesado.

quem mexer com o que é meu

ou tá doido ou tá danado.

Depois ele se sentou no meio do sofá e voltou a tragar no cachimbo.

- O senhor mora por aqui perto? – Perguntei.

- Moro sim. E também não moro.

- Como assim?

- Ah Meu Fio. Eu não sou de me apegar a lugar nenhum não. Eu gosto de estar onde meus fios precisam.

- O senhor tem quantos filhos?

- Muitos fios e afiados. Não dá nem pra contar.

- O senhor é daqui mesmo de Recife?

- Sou não Nêgo.

- E o senhor é de onde?

- Eu sou das bandas do interior daqui de Pernambuco. De uma cidadezinha chamada Matriz da Luz. Meu fio conhece?

- Não. Conheço muito pouco do interior.

- Apois devia. Ninguém deve conhecer um lugar só não Nêgo. O mundo é muito grande pra você criar raiz e ficar preso num lugar só.

Aquilo parecia exatamente o que eu precisava ouvir. E não sei muito bem o motivo pelo qual ele estava falando aquilo para mim, naquela hora. Mas assim que o que ele disse assentou na minha cabeça eu respondi com o pouco de palavras que eu senti que tinha pra dizer.

- É verdade.

- Pois bem, Nêgo. Eu vivi pelos interior, faz muito muito tempo. E só depois de adulto que eu vim para as bandas do Recife.

- Mas o senhor não parece tão velho assim.

- ô Meu Nêgo. Você que estudou tanto as coisas, sabe que o que esses ôio que você tem ai tão vendo não passa de ilusão. O que os ôio da matéria tão vendo nem sempre são a verdade. O Nêgo tem que aprender a ver as coisas com o coração antes de julgar com a cabeça. Mas isso meu fio sabe, não é? Só esquece as vezes.

Balancei a cabeça concordando, um tanto embasbacado e ele continuou.

- Pois então. Quando eu era criança eu nunca tive amor de pai nem de mãe. Quem me criou foi um padre, chamado Severino, que até hoje eu tenho muito orgulho te ter como meu padrinho. Onde eu nasci, no meio da seca e da pobreza, os pais que não tinham como criar os filhos, largavam as crianças nas igrejas ou nas fazendas onde alguns coronéis e doutores que tinham bom coração se dispunham a criar. E olhe meu fio. Eram muito poucos que faziam isso. Mas no meu caso eu dei sorte, por que quem ajudou a me criar foi um coronel chamado José de Aquino. Que hoje é um mestre de muita ciência, pelas bondades que ele fazia pra quem não tinha nada. Dai eu fui crescendo pelo meio das igrejas e das fazendas e logo quando me tornei rapazote percebi que aquele lugar foi ficando pequeno pra mim. E era como se as forças tivessem me dizendo pra eu percorrer os quatro cantos e não ficar parado. Ai eu saí de lá, depois de causar muita desordem e fui bater pelos lados da Bahia. Pro lado de lá, eu terminei conhecendo um mestre de capoeira, chamado Tião, que hoje também é mestre. Ele foi me ensinando como me defender, por que naquele tempo quem era pobre tinha que saber se defender com as armas do corpo, senão tava lascado. Fui crescendo por ali e começando a me dar bem e me meter com as mulher da vida... as rapariga como vocês dizem nos dias de hoje. Só que eu ainda sentia que aquilo era muito pequeno pra mim. Pois então eu deixei tudo pra trás e vim bater aqui pros lados de Recife, onde diziam que tinha os maiores cabarés e as melhores bebidas.

Cheguei pros lados de cá, e fiquei andando pelos lados do porto. No meio das quengas, dos cabarés, da bebida e do jogo... meu fio sabe como é né?

- Acho que sei um pouco.

- Então, pro lado de cá eu conheci um doutor, um desses estudados das letras. Ele chegou achando que ia me enganar, e disse que queria me contratar pra tomar conta de umas puta dele lá no Rio de Janeiro. E eu falo puta sem querer ofender as mulheres que fazem isso. Cada qual sabe o que faz da vida. É só que era assim que a gente chamava. Tu sabe, né Nêgo?

- Eu sei sim.

- Pois então. O Doutor achava que ia me enganar, mas eu tava era na intenção de aproveitar e andar no meio das quengas... provar o produto, né Nêgo? E eu fui embora com ele.

Passei muito tempo no Rio de Janeiro, nesse cabaré, cuidando das puta. Aprendi muita coisa com a malandragem. Muita coisa boa e muita coisa ruim. Mas ai quando eu achei que tava bem. Cheio dos dinheiro e das coisas da matéria, veio a traição. Meu Nêgo sabe o que é isso não sabe?

- Sei sim, seu Zé. Mais do que eu gostaria de saber.

- Pois é, Nêgo. Não vou entrar em detalhe, mas eu dei de cara com meu destino lá pelos lados do Rio de Janeiro. Quando eu me dei conta, tinha tomado uma rasteira. Eu abri os olhos vi as coisas de um jeito diferente. Demorei muito tempo pra entender onde é que eu tava.

- E onde o senhor estava?

- Tu sabe, Nêgo.

No meu intimo eu sabia o que ele queria dizer, apesar de não querer acreditar que era aquilo mesmo.

- Eu sei, Nêgo, que eu rezei pra tudo quanto é santo que eu conhecia. Mas como eu não era muito bom de reza naquele tempo, ninguém que eu chamei veio me socorrer. Eu posso lhe dizer que eu tava num lugar muito ruim e não sei quanto tempo eu passei ali. Só sei que não desejo aquilo pra ninguém.

- E ai?

- Pois depois de um tempo eu percebi um Nêgo muito alto, todo vestido de branco perto de mim. Ele ficou me olhando e tava com um sorriso no rosto que me fez lembrar dos tempos bons que eu tinha vivido em terra.

Só que eu não sabia quem ele era.

Ele olhou pra mim e disse assim “Te acostuma que tu vai ficar aqui por um tempo ainda”. E foi embora.

Eu fiquei arretado no começo, por que nunca gostei que mandassem em mim, mas fui vendo que era isso mesmo. O tempo foi passando e a raiva que eu tinha de quem me traiu foi começando a amargar cada vez mais na minha boca e eu me decidi por me vingar de quem tinha me feito mal.

- E o senhor se vingou?

- Me vinguei Nêgo. Não vou negar. Mas não recomendo pra ninguém. Por que no fim das contas eu terminei só fazendo mal pra mim mesmo.

Quem pagou o preço fui eu mesmo. Foi amargo. Eu vaguei por muito tempo. Com fome, sede, sono. Tudo. Como eu falei antes, não desejo aquilo nem pro meu pior inimigo. Mas quando eu achei que não podia piorar mais eu dei de cara com aquele homem todo de branco.

Ele veio falar comigo e perguntou se eu queria ir com ele.

- Ir pra onde?

- Ele não disse, Nêgo. Só disse que ia me resgatar.

E eu pensei que pior do que eu tava não tinha como ficar e eu fui com o homem.

- E quem era?

Foi então que ele apontou pra imagem de seu Zé Pelintra.

- Era Seu Zé Pelintra. Que alguns conhecem hoje como seu Zé da Luz.

- O senhor está falando sério? – Perguntei, descrente.

Ele balançou a cabeça afirmativamente e continuou.

- O Nêgo sabe o que é a Jurema Sagrada?

- Já ouvi falar, mas confesso que não sei muito bem do que se trata.

- Ah Meu fio. A Jurema é uma Ciência fina. É a nação dos caboclo, dos mestre, das mestras, das forças, das ervas. A ciência da jurema é sagrada, santa e bendita, que não tem altar. O altar é a natureza. Tanto mata como cura, depende do coração de quem vem pedir, tá entendendo, Nêgo?

- Mais ou menos.

- Os caminhos da gente nessa vida nem sempre são fáceis de andar, né Nêgo. Como diz o ponto, “Que caminhos são esses, tão cheios de pedra e areia, Valei-me Nosso Senhor Jesus Cristo, Valei-me Nossa Senhora das Candeias.”

Apenas pude concordar com a cabeça enquanto ele falava. Tomei um gole da minha bebida e enchi novamente o copo dele.

- Pois foi naquele dia que Seu Zé Pelintra me apresentou a Jurema Sagrada. E depois de muita coisa, e muita história eu me encantei e escolhi pra mim o nome de Zé Pretinho. Por que eu sou Nêgo, e sou pequenininho. Mas sou trabalhador e doido é aquele que mexe com que eu cuido.

Continuei ouvindo a história dele, sem saber o que dizer em resposta.

- Foi seu Zé que me trouxe pra luz, Nêgo, e que me ensinou a deixar pra trás as coisas ruins que fizeram comigo. Só aí eu parei de pensar no tanto que me fizeram mal e pude começar a andar pra frente. Tu tem que tomar cuidado com as coisas que tu pensa, Nêgo. Pensamento é força, é trabalho. Se tu pensa coisa ruim. Tu atrai coisa ruim. Se tu pensa coisa boa, tu atrai coisa boa. Quando tu pensa uma coisa ruim. Quando tu deseja um mal a alguém é o mermo que tu estar acendendo uma vela. Só que ai tu vai atrair tudo o que não presta pra tu. Mesmo que esse alguém tenha te feito mal antes. Mas isso meu fio também já sabia né?

- Já sim.

- Mesmo assim eu tô dizendo de novo que pra tu não se esquecer, né, Nêgo?

- Vou pensar sobre isso.

Ele tragou profundamente no cachimbo e abriu um sorriso.

- Tu pode me trazer um copo d’agua, Nêgo?

- Posso sim. Claro.

Me levantei e fui até a cozinha. Percebi que a chuva tinha passado, apesar do céu ainda estar carregado.

Enchi um copo de agua gelada e voltei para a sala.

Seu Zé Pretinho bebeu tudo de uma vez só e guardou cachimbo dentro do bolso e disse.

- Há quanto tempo tu não dorme, Nêgo?

- Têm uns dois dias. – Respondi.

- Hoje tu vai dormir.

- Será?

- Oxe, Nêgo. Tu não acredita? Então fecha os óio que eu vou te fazer uma oração.

Primeiramente eu hesitei, mas por fim fechei os olhos. Ele começou a murmurar umas palavras que não consegui discernir o significado. Apesar de saber que era um ponto cantado, as palavras por algum motivo não faziam sentido aos meus ouvidos.

- Agora tu dorme, Nêgo. – Ele disse por fim.

Cai num sono que não me lembro de ter caído antes na minha vida.

Um tipo de sono leve e pesado ao mesmo tempo. Acordei com o sol nos meus olhos e todo o peso que eu tinha no meu peito na noite anterior havia desaparecido.

Olhei ao redor procurando Zé Pretinho, mas não havia nenhum sinal da sua presença. Apesar de ter dois copos em cima da mesa. No meu havia um dedo de uísque, mas o outro estava vazio.

Procurei pela casa inteira e não o encontrei, e também vi que não havia nada fora do lugar.

Não achei nenhum rastro dele, mas por algum motivo, eu não me sentia mais tão perdido, apesar de questionar a veracidade do que tinha me acontecido na noite anterior.

Eu sei que é uma história estranha

e ninguém tem obrigação de acreditar.

Mas enfim, eu to contando

Por que me disseram pra contar.

Salve a Jurema Sagrada

Salve seu Zé Pretinho

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 08/10/2019
Reeditado em 08/10/2019
Código do texto: T6764145
Classificação de conteúdo: seguro
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