"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance= Capítulo 52

   Dona Laura quis ainda saber porque Eliane não lhe contara antes sobre o trágico destino do bandido e ela explicou que a pessoa responsável pelos danos físicos causados ao vagabundo armado exigira sigilo absoluto e fizera ameaças de morte a quem abrisse o bico. Agora ela podia contar porquê o tal coronel já falecera em um acidente em um lago. Além disso, ela mesmo ficara a par de tudo apenas por coincidência. Uma amiga dela fora assaltada pelo mesmo homem, queixou-se ao coronel e ele acabou com a saúde do perigoso bandido.
- Bom, então. Agora pra tudo acabar bem só falta meu Romerinho ficar bom de saúde novamente.
- Isso vai acontecer logo, dona Laura. Logo mesmo. Nem que eu tenho que levá-lo para a Europa ou para os Estados Unidos. Ou para qualquer país onde haja possibilidade de recuperação para ele.
- Eliane, você é um anjo de bondade. Um anjo de bondade que surgiu na vida dele.
- Foi saindo comigo, dona Laura, saindo comigo para namorar que aconteceu tudo isso...
- E você tem alguma culpa, minha querida? A culpa foi só daquele monstro que apareceu no caminho de vocês. De mais ninguém. Agora vamos entrar que ele deve estar doido pra se exibir pra você.
Ao chegarem ao quarto de Romero, a encenação começou. O palhaço de sempre estava atuando, fazendo graça. Deitado, fingindo sentir muita dor, Romero fez um tremendo drama do ato de colocar as pernas para fora da cama, dar um passo muito hesitante, fingindo que chorava de dor, antes de exibir-se para Eliane e dar vários passos perfeitos pelo quarto. Bem mais do que três, numa performance que a surpreendeu e emocionou de verdade.
Eliane correu para ele, abraçou-o tão fortemente como jamais fizera antes e praticamente o jogou de volta à cama.
- Safado, sem-vergonha, ordinário!! Fingindo pra mim! Me deixando ser a última a saber, seu ingrato, seu pilantra!!
Rindo, beijando, chorando, abraçando-o várias vezes, Eliane sentia-se a mais feliz das mulheres do mundo. Agora faltava pouco, muito pouco mesmo, para que ele se curasse e a levasse ao altar. Ela já se via vestida de noiva, ao lado de Romero, em frente ao altar, formando o casal mais bonito e feliz da Terra.
- Agora, meu querido, você vai ficar bom cada vez mais depressa. Assim que estiver cem por cento curado o que é mesmo que vai fazer?
- Vou sair correndo atrás da mulherada. Tão depressa que você nunca mais vai me alcançar e ficar com esses papos de casamento nas minhas orelhas.
- Será que a porta do quarto está bem fechada?
- Porquê? Está pensando em uma trepadinha agora?
- Não, meu querido. Estou pensando em pegar aquela bengala ali e te dar uma surra de criar bicho. O que não quero é que sua família venha te socorrer.
- A porta está aberta, minha paixão. Vá até lá, feche bem a porta e volte aqui peladinha. Quero te dar uma surra com outra coisa. Quer?
- Ô...se for o que estou pensando...
Enquanto faziam amor Eliane voltou a lembrar-se do bandido que atirara em seu amor. O pobre coitado nem ao menos podia sonhar com o ato sexual. O coronel tomara como primeira providência mandar esmagar-lhe os testículos. Só como amostra do que viria a seguir.
- Romerinho da minha vida, sabe que tem uma pessoa que nunca mais verá o bilau subir?
- Não está se referindo a mim, não é?
- Claro que não, meu idiota preferido. O filho da puta que atirou em você. Virou um trapo humano que não vê, não fala, não ouve, não sente mais tesão e, para tremendo azar dele, continua respirando. Acho que ele agora pensa que já morreu e que está no inferno pagando seus pecados.
- E onde é que ele está?
- A essa hora deve estar curtindo o verão em uma cadeira de rodas lá no centro da cidade. Sem água e sem boné. Só com uma das patas esticada, segurando uma vasilha para que joguem moedas nela.
- Cacilda!! Isso é que é pagar os pecados...
- E quando o mau cheiro dele é muito, fiquei sabendo que dão banho nele com uma mangueira de lavar carro. E se a esmola do dia foi pouca, ainda apanha.
- Esse tá fu...
- Quem mandou atirar no meu amor?

Quando Romero, meses antes, conseguira mover a cadeira de rodas sem qualquer auxílio, a festa fora grande. Começara em casa, espalhara-se pela rua, a alegria contagiara a todos os amigos, parentes e vizinhos mais próximos. Desta vez Eliane queria uma festança para comemorar os primeiros passos independentes dele. Uma festança com muita música, muita coisa boa, muita bebida, cantoria e dança.
Romero, com a expressão tristonha, chamou-a de lado para uma conversa muito particular:
- Meu amor, eu queria te fazer um pedido, mas acho que você não vai querer me atender.
- Diga, meu querido. Você sabe que quero lhe dar tudo, tudo, tudo, que você possa imaginar.
- É que eu queria uma coisa difícil. Difícil mesmo.
- Nada é impossível quando a gente tem dinheiro, paixão.
- Essa eu acho que é.
- Então desembucha logo. Já estou perdendo a paciência. Aposto que é alguma bobagem dessa cabeça de maluco.
- É que eu queria dançar uma valsa com você.
- A gente dança. Nem que seja só por um segundo, amor.
- Aí é que está o difícil da coisa: eu queria que nós dois dançássemos pelados pra todo mundo ver como você é gostosa e morrer de inveja de mim.
Eliane cruzou os braços, olhou para ele com cara feia e segurou-se para não lhe dar uns tapas na cabeça:
- Ô tipinho ordinário!! Não sei porque é que amo tanto um cabeça de merda como você. Vá dançar pelado com dona Laura, vagabundo.
- Minha mãe é mulher direita. Não aceitaria uma indecência dessas.
Como sempre, os dois acabaram gargalhando juntos. Eliane ria cada vez mais ao pensar nos dois comemorando juntos com uma valsa de nudistas. Palhaço até morrer o homem que ela amava....

A festança foi sensacional e durou até quase o amanhecer. Romero era mesmo muito querido por quantos o conheciam e Eliane enchia-se de orgulho por ele.

= Continua.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 02/10/2007
Código do texto: T677255
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