CASTELO DOS DESEJOS - PARTE II

...- Fica calma, não vou te morder.

O começo está publicado em textos/contos/Castelo dos Desejos.
Eis a continuação:


                                  

                  ...Ela respirou, aliviada. Aos poucos, aquela sensação de estar gostando da companhia dele tomou conta de seu corpo. Ele sentiu as vibrações que emanavam de seu corpo. Sentiu também que ambos estavam em sintonia com as vibrações do ambiente. Entretanto, possuído pelo desejo, recomeçou o que havia iniciado na festa. Surpreendentemente, ela se sentia segura, mesmo sabendo que não estava, e perguntou a si mesma:

                  - Por que estou gostando desta situação? Por que este homem desperta em mim sentimentos que não quero sentir? Por que não consigo sair correndo?

                  E, nos braços dele, seu corpo foi sendo explorado com gestos ousados, outros nem tanto, porém excitantes. Suspiros e gemidos quebraram o silêncio que habitava o ambiente até então. De olhos fechados, ela sentiu que sua pureza daria passagem às delícias do sexo, porque seu corpo estava disposto a se entregar. Só que ele queria muito mais que puro sexo. Beijou-a lentamente da cabeça aos pés, contendo-se para não possuí-la. Então olhou-a bem dentro dos olhos e se afastou.

                  Ainda não entendendo ao certo o que acabara de acontecer, ela permaneceu ali por alguns minutos, paralisada, tentando se refazer. Saiu da banheira, caminhou em direção à cama, deitou-se e dormiu um sono profundo.

                  Despertou na manhã seguinte, quando os primeiros raios de sol entraram pela janela, convidando-a a senti-los fora daquele castelo frio e sombrio.

 

                                                                           II

 

                  Ao acordar, ela sentiu que sua presença ali era real e não um sonho, como pensara. Possuída pela curiosidade, abriu o guarda-roupa, colocando o único vestido existente no cabide. Ficou surpresa com a cor branca e a sutil transparência do tecido, mas sentiu-se confortável com ele junto ao corpo. Abriu as cortinas e saiu à sacada, de onde avistou um lindo jardim repleto de rosas rubras,  cujo aroma misturava-se ao frescor da bela manhã.

                  Correndo em direção da porta, ela percebeu que não tinha nada para calçar. Mesmo assim, desceu cuidadosamente as escadas. Havia um silêncio ensurdecedor ao seu redor, mas sentiu coragem o suficiente para prosseguir. Atenta a tudo, observou as sombrias telas expostas nas imensas paredes. Elas possuíam um toque de classe e bom gosto que a intrigou, bem como as suas combinações de cores, suas molduras raras e a sua enorme quantidade. Mas ela não permitiu que isto a desviasse de seu objetivo – sair dali o quanto antes.

                  Ao atravessar o salão principal, lembranças da noite anterior lhe causaram arrepios. Apressou então o passo, e chegou à porta de entrada, sentindo-se como uma fugitiva. Quase sem forças, empurrou-a. Do lado de fora do castelo, sentimentos de alívio e de liberdade pousaram em seu pensamento. Respirou fundo e começou a desvendar cada centímetro daquela liberdade.

                  Seguiu, guiada por um aroma de flores, e deparou-se com um magnífico jardim. Por uns instantes, esqueceu-se de sua meta – fugir. Descalça, aproximou-se das rosas, sentiu seu perfume e contemplou-lhes a beleza. Pisando na grama molhada e fria, porém, voltou à realidade. Ao fundo, podia ouvir a melodia das águas cortando o silêncio. Despediu-se do jardim e seguiu em direção oposta ao castelo.

                  Durante sua trajetória, encontrou uma pequena ponte de pedras com grandes estátuas em forma de indecifráveis pássaros em cada uma de suas extremidades, mas não se deixou amedrontar. Tentou atravessá-la, porém não conseguiu, como se houvesse alguma barreira invisível. Resolveu então permanecer ali, distante do castelo, contemplando a beleza do lugar, escutando o barulho das águas, sentindo o aroma das rosas – até o entardecer, quando o lugar, até então sereno e belo, começou a se transformar em sombrio e assustador. Os pássaros da ponte pareciam observá-la. Até mesmo gritos ela ouviu, como se eles estivessem agonizando. O medo fez com que ela permanece ali, parada, como  que petrificada, até o anoitecer. ...





Edição limitada. A metade dos exemplares já está vendida.
A capa é da artista plástica , escritora e amiga, Dalva Agne Lynch.

Cármen Neves
Enviado por Cármen Neves em 03/10/2007
Reeditado em 15/04/2008
Código do texto: T678817
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.