'E AGORA, DRUMMOND?" - PARTE II

1---Poemas danadinhos - Deve ter acontecido, não vi, li notícia em jornal... - "O ator THIAGO LACERDA vai declamar, dia 29/10/17, na Biblioteca Pública de BH, poemas eróticos de CDA, do livro "Amor natural" (saiu em 1992, mineiro guardou para publicação póstuma, total de 40 poemas - vida e sensualidade: anseio diante do tempo do autor). Programação pelos 115 anos de DRUMMOND (1902/1987)."

2---Do livro JOSÉ, fragmento típico da maneira como o poeta encara sua individualidade, no fluir do tempo. --- Do poema "Edifício Esplendor": "O que saudades não tenho / de minha casa paterna (.........) Chora, retrato, chora. / Vai crescer a tua barba / neste medonho edifício / de onde surge tua infância / como um copo de veneno." --- Na medida em que vai caminhando, em direção ao mundo e aos seus companheiros, o poeta afina seu instrumento, aperfeiçoa sua técnica. Já tem pleno conhecimento de que a palavra, caminho para a comunicação, é também via de fuga, rota de perdição, pluriforme e difícil coisa.

3---Sobre o poema "A máquina do mundo" - "É facultado ver, por detrás do cerrado pessimismo de DRUMMOND, um não menos compacto humanismo. Para tanto, só são necessárias duas posições: saber ler e - em lugar de exigir da poesia o sloganismo e a vulgaridade que consiste em ela abrir-se a travestir o mundo real num universo ideológico roseamente fácil e irreal - reclamar-lhe apenas a dimensão de profunda verdade com que, todas as vezes que se cristaliza, ela define o fluido e complexo mundo do homem." - Ensaio de JOSÉ GUILHERME MERQUIOR. - Belo discurso. Leitor entendeu?

4--"Auto-retrato", de 1989, publicado dois anos após a morte do poeta, DRUMMOND agora reeditado. "Diz o espelho: O sr. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE é um razoável prosador que se julga bom poeta, no que se ilude. Como prosador, assinou........." --- Livro comemorou, em 2017, 75 anos da Editora Record e traz de volta textos e fotos do poeta mineiro. --- Bom, o velho ditado diz que um homem só se realiza depois de escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore. Assim, em 1984, o editor ALFREDO MACHADO convidou alguns literatos para plantar mudas escolhidas pelo paisagista BURLE MARX no pátio da editora, em São Cristóvão, Rio, no Dia da Árvore, 21 de setembro. Entre mais de 30 convidados, retrato de CDA e JORGE AMADO plantando as mudas, no encarte da reedição comemorativa de "Autorretrato e outras crônicas", de DRUMMOND, organizada pelo crítico literário FERNANDO PY: 57 crônicas escritas entre 1943 e 1970; a reedição traz fac-símiles do contrato para publicação do livro infantil "História de dois amores", de 1985, e algumas cartas trocadas entre CARLOS e ALFREDO. --- No encarte, 4 cartas endereçadas ao poeta e bilhete enviado ao editor: a correspondência acompanha um pouco da amizade entre eles, estreitada ao longo dos anos - na primeira carta, "Prezado Dr. Drummond' /muita formalidade! - hoje, gurizinho do curso primário pronuncia abertamente "Drummond", como se fosse coleguinha de 9/10 anos, mas com certo receio e simultâneo respeito/, comunica o envio de um artigo do "New York Times" sobre poetas brasileiros a serem publicados nos States, traduzidos por ELIZABETH BISHOP (luxo para a época, MACHADO era assinante e recebia o jornal no Rio), e assina a carta "com os cumprimentos de seu editor bissexto, mas leitor assíduo." --- Para cortejar o poeta, enviava publicações estrangeiras e, junto com carta de 1983, elogios a uma crônica em que DRUMMOND se pergunta se o general João Figueiredo nunca tinha lido um livro à mão, e mandou um exemplar da revista "New Yorker" com tradução do poema "Balada do amor através das idades", de CDA. --- Das 4 cartas do editor, a última escrita à mão, set./1984, chamando o poeta apenas de "Prezado Drumond", sem o Dr. das primeiras missivas e assina "um forte abraço do Machado" - agradece a presença no 21 de setembro: "na pressa de sua saída, esqueci-me de entregar-lhe a pazinha que preparamos para os plantadores de árvores, a fim de que continuem a cuidar da ecologia". --- Carta única de DRUMMOND no encarte, quase um bilhete, de 1985, poeminha como epígrafe e votos de bom Natal e ano novo. --- SÔNIA MACHADO, filha de Alfredo, conta que foi bem mais fácil encontrar as cartas enviadas pelo pai que as recebidas - o poeta era metódico, sua correspondência hoje também e tão organizada no acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa - tratamento de ALFREDO no começo era cerimonioso porque o poeta era (ou lhe parecia) cerimonioso, mas foi ficando mais amistoso e cordial. --- Na seleção das cartas, o crítico FERNANDO PY buscou textos que permanecem atuais, embora escritos há muito tempo - na prosa, também o humor corrosivo, linguagem coloquial e humor aguçado sobre o cotidiano; na crônica que dá nome ao volume, o poeta descreve a si mesmo como burocrata silencioso, mineiro de poucas palavras e afirma que o poema "No meio do caminho" não era sequer um poema, apenas um amontoado de vocábulos recolhidos no dicionário. --- Em 1989, textos mantendo a atualidade de interesse ainda hoje. Por exemplo, em "Museu: cautela", crônica em forma de carta enviada ao presidente do TRE, onde o poeta roga às autoridades que não permitam novo museu, "sala ou coisa que o valha, com o titulo A grande ilusão", expostas milhões de cédulas que os brasileiros usaram na última eleição.

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LEIAM meu trabalho BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES: CDA.

FONTE:

"Autorretrato - Drummond reeditado", artigo de RUAN DE SOUSA GABRIEL, SP - Rio, jornal O Globo, 1/6/18.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 10/11/2019
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