Sobre mudanças, fuga da fama e sossego num velho sobrado de uma cidade no interior

Chegou no meio da madrugada e toda cidade dormia, chovia forte, rajadas de chuva caía no capô do Rand Rover. Ele olhou o velho sobrado e a casa da senhora onde a chave estava guardada. Suspirou era melhor passar a noite no carro mesmo e pela manhã pegaria as chaves do sobrado.

Dormiu no banco de trás usando a jaqueta como coberta.

Pela manhã havia uma fina garoa e um tempo nublado. Ele olhou o relógio 6:45. Saiu do carro e se esticou todo, ajeitou os cabelos despenteados o melhor que pôde. Olhou volta, viu o velho sobrado e a casa de dona Hermínia, a luz da sala estava acesa. Ajeitou a jaqueta e foi até a casa.

Um senhora de cabelos brancos, sorriso simpático abriu a porta.

- Pois não?

"Que tranquilidade em abrir a porta para um desconhecido tão cedo. Coisas do interior" pensou.

- Olá, dona Hermínia. Sou o novo proprietário do sobrado. Vim buscar as chaves...

Mostrou- lhe os documentos de posse. A velha sorriu e ofereceu- lhe um café para esquentar o frio. Ele recusou e agradeceu. Ela foi buscar a chave. Ele sorriu, agradeceu e se afastou.

Estacionou o carro dentro da garagem e começou a levar as caixas para dentro, ia empilhando tudo na sala espaçosa. Caixas, estojos com as guitarras, o amplificador marshall jcm 900 as bolsas com roupas.

Era por volta de 14: 00hrs da tarde de uma quarta feira cinza e nublada, que ele terminava de limpar a casa ( teve que ir até o armazém comprar material de limpeza) e organizar as caixas ou uma parte delas. O amplificador, as guitarras ficaram no quarto pequeno que ele fez de estúdio. Deu mais uma pausa e desceu para rua.

Caminhou pelas ruas de São Sebastião, era uma cidade calma com mais movimento de pessoas do que carros. A maioria dos veículos eram Fusca, carroças puxadas por burros e cavalos. Apesar de pacata a tecnologia também havia chegado ali, jovens e adultos usavam smartphones, os mais idosos possuiam aparelhos mais antigos. Encontrou um mercado, maios que o armazem, fez compras básicas.

Para um ex astro do rock, alimentos básicos como arroz, macarrão, carne, garrafas de vinho e cervejas long neck bastavam. Era o necessário agora.

Voltou para o sobrado e colocou água no fogo pro café. Trocara a cafeteira elétrica pelo bombe velho coador. Fez a faxina, organizou as coisas, faltou apenas as caixas com seus livros. Deixaria pra amanhã o trabalho hoje estava encerrado. Ouviu um barulho alto de eletricidade que o assustou, então percebeu que aquele era o barulho da companhia. Sorriu e desceubas escadas.

Dona Hermínia estava ao lado de uma bonita moça de cabelos negros e pele morena.

Ele poderia jurar que era a versão mais nova de D. Hermínia. A senhora segurava um prato coberto com pano de prato. A moça se chamava Laura e era neta de dona Hermínia, se apresentaram formalmente e onque o pano de prato escondia, um bolo de laranja, era as boas vindas. Ele agradeceu, e convidou- as para subir, o café estava quase pronto. Elas aceitaram. Era uma situação estranha para ele, era a primeira vez que estava sendo tão cortez e tão bem recebido num lugar sem ser pela sua fama. Isso o deixou bem confortável. Subiram.

Sobre o sofá estava sua guitarra Tender Stratocaster 1958 e no chão perto da estante vazia duas caixas de livros. Elas repararam, sorriram para ele, curiosas.

A cozinha era pequena e bem aconchegante, a janela dava para o telhado da casa delas. A mesa ficava perto da janela, o conjunto de bancada e armário ficava perto do fogão, a água fervia, passou o café. Pegou duas xícaras, as únicas que tinha, ofereceu para D. Hermínia e sua neta e ficou com um copo de vidro onde sempre bebia vinho. Encheu as xícaras e o copo, Laura cortou o bolo pedaços, D. Hermínia recusou, evitando açúcar ela disse. Ele explicou que era músico, além de escrever nas horas vagas, fugia dos Estados Unidos para se ter uma vida mais calma por aqui. Conversaram mais um pouco e logo no começo da noite se despediram.

Ele as levou até a porta, viu elas descendo as escadas. Deu tchau e sorriu voltando para dentro.

"Uma vida calma e tranquila, acertei vir pra cá". Nunca tinha sido um homem de se dar bem com a fama, ele precisava dessa vida "clandestina" viver atrás dos holofotes.

Wesley Curumim
Enviado por Wesley Curumim em 10/12/2019
Código do texto: T6815948
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.