A VIDA É UM MISTÉRIO INEXPLICÁVEL

Disse-me ela … “É um mistério!”

- Porque é que não o desvenda comigo?

Ela olhou-me no seu jeito sobranceiro e altivo e não respondeu.E avançou por aquele estranho corredor cumprido com muitas portas.

Ah eu corri atrás dela feito um rapaz louco.Determinado a segurá-la, beijá-la e deixá-la quase sem fôlego.

- Sente a minha boca.Beije-me de volta.

Mas ela esgueirava-se e ia fechando portas atrás dela que eu abria e ia atrás numa corrida imparável, cansativa, angustiante até que…

Acordou sobressaltado.Três da manhã.Que sonho insano com a Z!Foi buscar água ao frigorífico.Levou o copo para o escritório.Sentou-se à secretária.Conectou-se à rede.E ela estava e não estava lá.Em silêncio.Ficou na dúvida.

Z. era parecida nas fotos com a Bjork cantante ou com a Maria de Medeiros actriz.Mas mais bonita que ambas.Tinha um rosto atraente, uma expressão provocante e uns olhos lindos e misteriosos.Uma gata selvagem.Medo dos arranhões.

Aprovava e fazia perguntas pertinentes sobre as suas tentativas literárias.Analisava, discutia, previa o homem que ele podia ser por trás das palavras.

- Está a tentar-me desnudar, por acaso?

- Estou.A tentar desnudar-lhe a alma.Despegada do corpo físico.Mas você parece perito em escapulir-se.Que frustração!Acredita na alma, Manuel?

Era desconcertante.Aos avanços e recuos.

-A alma?Não sei.Talvez.Nunca a vi mas às vezes, sinto-a ou julgo que a sinto…

Nos momentos de angústia, trocavam abraços e beijos imaginados.E ele pensava na sua estranha vida afectiva e virtual.

Ela não gostava de se mostrar nem de falar muito de si mesma.Tinha dias.Que faria aquela mulher especial no âmago de si mesma?

- Fico na cama quando não tenho sono e medito e tive a certeza de que quando voltasse a ver a luz do dia tinha uma mensagem sua.

- Quase como um namoro.

Não sabiam se deviam tratar por tu ou usar um tratamento mais distante e cerimonioso.Ele conseguia a saca-rolhas retirar alguma informação.

- Sim tive formação católica mas agora a minha cabeça está confusa.Não sei bem qual religião ou negação me diz mais.

Ou , noutro dia

- Autoeliminei-me!

-Jesus!Não faça isso!Não fuja!Volte aqui, se faz favor.

Uma mulher diferente que conseguia – o inimaginável - surpreendê-lo.Afinal Manuel não alardeava que já tinha visto tudo?Balelas!

Noutro dia estava fragilizada e com saudades da filha, porventura uma jovem estudante candidata a voos altos.A Mãe bebera demais e ficara tonta.

Ele sentia vontade de a mimar via satélite mas era difícil e quase impossível.Gostava de desempenhar o amigo e correr a abraçá-la para lhe insuflar coragem, esperança…um pouco de fé. Para prosseguir.

E ela desabafava sem guião nem ordem.

- A vida é um mistério inexplicável – suspirava – Andamos à deriva entre amizades, amores e desamores.Entre os sentidos e alma.

A Alma controvérsia no “Fumo de Verão” de Tennessee Williams.

E citava Epicuro “A amizade e a lealdade residem numa identidade de almas raramente encontrada”.

E depois inesperadamente descia á terra e era a única que conseguia identificar a imagem da pobre, esquecida e genial Henriette de Morineau enlevada com a sua amiga Amélia Rey Colaço.E até lhe remetia um artigo raro e esclarecedor sobre a grande dama do teatro.

Uma energia perpétua.Mudava as fotos de perfil.Ele já nem sabia se ela era ela ou alguma feiticeira esbelta que tomara o seu lugar.Agora o pôr do sol, agora o precipício, depois a beldade de volta.Que energia!

- O Manuel lembra-me um Amigo…O Manuel também tem um jeito especial para se afastar e desaparecer subtilmente.

-Eu? Não!

E o nariz de Pinóquio crescia-lhe descontroladamente.

“Como me excita, como me desafia.Venha, vamos dançar.”

José Manuel Serradas
Enviado por José Manuel Serradas em 29/12/2019
Reeditado em 29/12/2019
Código do texto: T6829419
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