Quanto mais mexe, mais fede
Ia o carro com a família.
- Que cheiro de merda! – gritou o pai, enquanto esforçava-se para manter o foco na direção.
- Foi o Beto! – Lavínia berrou – Ele que pisou.
- Não falei para vocês prestarem atenção, que a chácara do tio é cheia de cocô de cachorro! – esbravejou o pai.
- Aquele seu tio também, né Rodolfo? Pense num homem porco.
- Coitado dele, Isabel, o coitado é sozinho.
- E solidão é desculpa para porquisse agora?
Rodolfo ignorou a esposa, e voltou a reclamar:
- Oooo Beto, limpa esse pé com o jornal que está aí atrás.
- Não – Isabel protestou – eu vou ler o jornal depois. Tá falando do roubo no mercado.
- E o mercado é seu, por acaso? – ironizou Rodolfo – Que eu saiba, você só tem o seu salãozinho e pronto.
- Pelo menos tenho alguma coisa. E você, com aquela oficina velha. Só bêbado e nóia trabalhando lá.
- Pois é. Só bêbado, igual ao seu irmão.
- Não fala do meu irmão!
- É bêbado sim! Se não sou eu, para dar uns trocados para ele, nem para a cachaça o desgraçado ganha!
- Igual a sua sobrinha, enchendo o saco lá no salão. Até a cara é de biscate.
Rodolfo freou o carro com tudo, e todos tomaram um solavanco.
- Se for para brigar nessa merda, a gente volta para a casa!
Isabel devolveu a ameaça com uma grosseria ainda maior e o casal continuar a brigar e a revirar o baú de ofensas pessoais. Beto passou o dedo sobre o cocô do sapato e depois o cheirou. Discussões eram como o cocô, concluiu o garoto, "quanto mais mexe, mais fede".