Flores no Deserto

Uma flor nasceu onde menos se esperava encontrar uma: em um deserto onde não caia uma gota de água há mais de 40 anos. Apesar de ser um fato surpreendente e certamente inexplicável, isso era literalmente de ajuda nenhuma.

Se alguém se perdesse nesse deserto e caminhasse durante dias sem nenhuma orientação, encontrar essa flor apenas afloraria a sua raiva ao pensar que essa maldita coisa frágil desabrochou onde seria o seu túmulo, o local onde estaria eternamente enterrado e provavelmente nunca encontrado.

A beleza da flor que está a sua frente e que certamente o hipnotizaria em um dia comum não importa para aquele que não tem condições de contemplá-la. O brilho da flor de nada importa para aquele que já foi possuído pela raiva. Ela provavelmente será destruída somente para não ser mais vista por aquela pobre pessoa no deserto.

Havia uma bela flor no deserto certa vez. Hoje já não restam muitas coisas dela: raízes despedaçadas, um caule dividido em três e pétalas picotadas em mais pedaços do que se pode contar. Entretanto, ela não pode desaparecer já que o deserto seco impede que ela se decomponha. Os seus pedaços se espalham com o vento, alguns são enterrados na areia, mas rapidamente reaparecem e navegam pelo ar.

Finalmente, outras pessoas desesperadas e perdidas encontram esses pedaços verdes e coloridos, flutuando no ar ou se evidenciando no amarelo da areia. A raiva a atinge da mesma maneira, entretanto nada pode fazer contra a bela flor: ela já está morta ao mesmo tempo em que continua viva.