Mares que arrastam

Querido Diário,

A viagem é demorada, mas logo chegarei. Há no navio uma epidemia. Não sabemos como surgiu, nem que parte do mundo está matando agora, mas tenho fé de chegar sã e salva.

[janeiro de 1945]

“Chacoalham-se em mim

...Turbulentos mares gelados.

Em uma visão assustadora, vejo o que mais temia ver.

- Em contato com o mar, o corpo congelou- se, o coração já parado, os pulmões já asfixiados...-

(...)

Vi mamãe correndo para fora de casa ao meu encontro, estava chorando feito louca e falava coisas que não podiam ser compreendidas devido ao barulho do choro e seu total descontrole.

(...)

Era a febre que tomava por conta domínio de todos os homens,

Era aquela peste, que adoecia e derrubava um a um até decompor todos...

Sem cura, sem perspectiva alguma, uma vez deitado, nunca mais levantava- se.

Entre todas, a mais bela, desgraçada por tal coisa,

Limitada a não mais bailar, prisioneira e não concordante...

Eis que foras o grande amor de um belo rapaz...

Eis que foras o motivo de suas margas noites não dormidas...

Pois ao se ver sendo dominada pela desgraça, preferiu matar-se a não dar o gosto do de seu assassinato a tal prazer. Do navio, atira-se ao mar... Turbulentos mares gelados.

Em uma visão assustadora, vejo o que mais temia ver

_Em contato com o mar, o corpo congelou-se, o coração já parado, os pulmões já asfixiados...

E agora temores, por todo o meu ser

Chacoalham-se em mim apenas em ver.

Ela era linda! E fora Cinderela apenas por uma única noite! Injustiça!

Em quanto outras esbanjavam, ela brilhava por si só.

Em quanto ela na miséria morria de fome.

Eu a conheci, conhecia a moça bela que se suicidara, jogando-se ao mar, na volta para seu país...Eu tivera sorte de

escapar de tal destino... E já chegava na vila, quando pela Segunda vez

Em uma visão assustadora, vi algo que temia ver...

Vi mamãe correndo para fora ao meu encontro, estava chorando feito louca e falava coisas que não eram compreendidas devido ao barulho do choro e o seu total descontrole...

Não era a toa... ela falava coisas que eu é que não conseguia compreender porque não queria aceitar... disse que não nos restava mais nada, que nada mais tínhamos...

Meu irmão onde está? Onde está o meu irmão? Onde ele está mamãe? E papai? Onde ele está mamãe? Onde estão eles? O que aconteceu? Não, não entendo! O que está havendo?- eu perguntava à ela.

... “Há no navio uma epidemia. Não sabemos como surgiu, nem que parte do mundo está matando agora, mas tenho fé de chegar sã e salva.”

Almir de Verosck Bromer nascido em 1901 e falecido em 1945.

Andrei de Bruz Bromer nascido em 1927 e falecido em 1945.

O que é isto na sua mão mamãe? Me dê isto!... veneno...

Lenir de Bruz Bromer nascida em 1907 e falecida em 1945.

Não!!!...

Chacoalharam se em mim, mares gelados...

Gelados mares, que asfixiavam meus pulmões... e então, deixei minha existência se decidir por mim,

E de mais nada tomei posse, em sobre mais nada decidi coisa alguma... porque na verdade, nunca minha decisão mudou os planos do acaso.”

1ª Edição

Mares que me levam,

Auto Biografia

De Lucielena de Bruz Bromer

Ano de 1965.

Caroline Natalie Stroparo
Enviado por Caroline Natalie Stroparo em 07/11/2005
Reeditado em 03/06/2012
Código do texto: T68471