DEVASSA DELICIA

Daniela, sentada ao seu lugar habitual, puxou assunto com ele, que parecia já querer se levantar e usar a prancheta.

_ Já me perdoou pelo bilhetinho? Perguntou ela parecendo depois de muito tempo.

_ Não há nada que perdoar, porque mesmo você não me fez nada – respondeu alegremente, olhando-a a de perfil.

Ah, sim fizera uma tarde seca e de sol, e a praça estava alegre, e Daniela disfarçou estar no orelhão, mas viu Juliano se aproximando, com seu andar meio lasso, segurando dois tufos de algodão doce; ele vinha vindo em sua direção, mas ela não saia de perto do orelhão, segurando o fone a uma certa distancia do rosto.Era uma defesa.Mas agora ela notava que ele era até um pouco barrigudo, mas não é que era um charme.Sentiu desejo de vê-lo nu, com o sexo subindo como um ponteiro – devolveu o fone ao gancho do orelhão – rindo com esta comparação de ponteiro.

Entregando-a o tufo de algodão doce cor de rosa, ele perguntou sorrindo:

_ Está rindo do quê?

_ Nada – respondeu e abaixou o semblante enrubescida – estou feliz por estar com você.Você nem pode imaginar.

_ Esta bem – disse com voz fraternal – mas é apenas assim desse modo.Nada de intimidades.

Daniela gostou do riso dele, ficou escarlate o olhando, assim a morder aquele tufo de algodão doce azul.

_ Posso pelo menos sentir seu cheiro – perguntou sentindo o coração acelerar, a boca fica ressequida.

Ele a olhou de soslaio, sorriu e viu que ela se aproximava com cuidado.Os dois haviam sentado num banco de madeira como que olhando pombos no chão a busca de farelos.Assim ela aproximou o rosto do pescoço dele.Sentiu-lhe o cheiro como um animal identificando o cio.Era como imaginara, e não antes o que se pensara.Adorava-o e assim seu tufo de algodão doce rosa estava derretendo em seus dedos, e ele avisou-a num gesto meio evasivo.

_ sinto muito, Daniela, mas já tenho que ir – avisou de repente.

_ Já? Foi ela num tom de voz desanimado – por que tem que ser tão rápido?

_ Você sabe – acudiu ele em dizer laconicamente.

Ela aproximou novamente o rosto junto ao pescoço dele, e ele sorriu como se sentisse cócegas.

_ Você tem cheiro de livro novo – declarou ela de repente, titubeante, sem saber por quê.E sempre ficava assim muito triste por que não tinha muita idéia de quando podiam se ver, mas acontecia de se verem como agora, como agora...

Ele já havia se levantado, mas não parecia, estava sentado ali, e ela podia aproximar o rosto e cheira-lo de novo.

O algodão doce de todo se derreteu, e seus dedos estavam melados e cor de rosa, chupou-os um por um com grande ironia devassa.

Ele tinha um cheiro intimo e secreto, intimo e secreto de livro.

_ amo-o, amo-o – confessara a não ver sentido em ver seus dedos chupados por sua boca mesmo.

Deus do céu, isto nunca vai fazer sentido, mas é uma devassa delicia.

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Rodney Aragão, Cabo Frio, 24 de julho de 2007.