O FATÍDICO (amaldiçoado?) QUARTO 44

1---Início em 1911, quando um milionário norte-americano compra e manda demolir um antigo hotel. Inauguração do Grande Hotel Cassino La Plage, luxuoso edifício na praia das Pitangueiras, Guarujá, em 1912. Versão de construção sobre um cemitério tupi e os poucos índios restantes amaldiçoaram o lugar. Diz-se que praga com razão e força, acontece. --- Um ano depois, morte súbita de CAMPOS SALLES, ex-presidente da República, participando de um evento social: embolia pulmonar. --- Em 1928, numa sexta-feira 13, mortes misteriosa do arquiteto RAMOS DE AZEVEDO, idealizador do projeto do hotel. --- Em 1932, suicídio de SANTOS DUMONT, inventor do avião, esportista, aos 59 anos, enforcando-se com a própria gravata, motivo abafado pela imprensa e autoridades da época, talvez assassinado sob a fama de homossexual (escândalo exagerado), fora dos padrões morais da sociedade cafeeira brasileira, início século XX. Manchete em jornal da época: "O Brasil perdeu um dos seus maiores filhos. Falleceu hontem (ortografia da época, com dois 'elles' e com 'agá'), no Guarujá, o grande aeronauta e inventor........." - ALBERTO alçado em 1959 ao posto honorífico de marechal-do-ar. --- Num baile de carnaval, 1949, nova tragédia: irmãos Olímpio e Emílio Matarazzo (hóspedes do 44) baleados e mortos no salão nobre do hotel por um delegado da polícia local após discussão corriqueira. --- Outros fatos inexplicáveis de menor repercussão social. --- Em 1959, hotel demolido. --- Modernamente fake news? Mesmo após mais de um século da inauguração, relatos de funcionários sobre fatos estranhos, sempre entre três e quatro horas da madrugada - manifestações sobrenaturais, aparições de espectros (um homem enforcado pela gravata!) no terreno que virou um famoso shopping: em especial o "Pai da Aviação" com o famoso chapéu e o relógio de pulso (primeiro civil a usar, cerca de 1904, pelas dificuldades de tirar relógio do bolso no controle dos voos - sugeriu a o joalheiro CARTIER fabricou um relógio quadrado com pulseira de couro). Na noite escura, música, sons de festa, terminados em gritos e tiros, e também choros e soluços. Bom, mas aí, lojas fechadas, os fregueses ausentes...

2---SANTOS DUMONT sacudiu a cena parisiense em 1900, mas não sozinho, pois ELISEU VISCONTI, pintor, desenhista e designer ítalo-brasileiro, assinou o cartaz "O beijo da glória a Santos Dumont", homenagem a ele, sucesso na França. - Para lembrá-los, palestra em dezembro/2018, por MÁRCIO ROITER, presidente do Instituto Art Déco Brasil, "Santos Dumont, o Brasil na Belle Époque francesa", durante a exposição "Aviação, o belo voo Art Déco", em Saint-Quentin, na França. --- Uma de suas residências é hoje o Museu Santos Dumont, em Petrópolis, chalé alpino francês, com o nome de "A Encantada", localizada na rua do Encanto - na construção, um mirante que serve como observatório astronômico e a escada com degraus em forma de raquete, obrigando início da subida com o pé direito - superstição ou para que não batesse com a 'canela' no degrau de cima. No Rio, Museu Aeroespacial, uma sala com o nome dele, em exposição a réplica do "Demoiselle" e objetos pessoais, como gravatas, chapéus e lapelas e uma coleção de caricaturas.

3---Falada em 4 idiomas, diálogos em português, inglês, espanhol e francês - seis capítulos, para revelar o pai da aviação brasileira a público internacional, conhecer e valorizar, apaixonaram-se por essa figura misteriosa e ambígua (respeito e perda de tempo questionar sexualidade / indecifrável, névoas íntimas - um de seus biógrafos afirma virgindade a vida inteira). Uma amiga francesa do diretor ESTEVÃO CIAVATTA perguntou "Clément Ader?", engenheiro francês (nunca voou!) que inventou a palavra 'avião'. Depois acrescentou: "Santos Dumont? Já ouvi falar." --- Pouco conhecido: o 14-Bis praticamente não existe na história da aviação e nos States só lembram dos irmãos Wright. --- ALBERTO nos ensina que é sempre importante tentar. --- Estreia da minissérie "Santos Dumont" em toda a América Latina - no primeiro episódio, artes do menino de 10 anos para desespero dos pais, conduzindo a locomotiva da fazenda de café da família e as primeiras tentativas de voar, já na França. --- Vaidoso, usava saltinho e listras verticais para parecer mais alto e circular nos salões parisienses, porém excessivamente tímido e justamente o mistério o torna tão atraente. Nas fotos, expressões faciais esfíngicas em personalidade forte e complexa, ora sorrindo ora um traço de melancolia. Escreveu dois livros: "Os dois balões" e "O que eu vi, o que nós veremos". Pensamento organizado, extremamente matemático e artístico. Na falta de detalhes sobre vida íntima, seriado explora relações com familiares, amigos próximos, como a socialite americana Aída de Acosta e personalidades do convívio na Belle Époque. Era muito próximo aos pais e, depois da morte deles, da irmã Virgínia e do sobrinho Jorge. Na minissérie, ainda figuras históricas, como o relojoeiro Louis Cartier e a amiga Princesa Isabel. Cenas parisienses, porém filmagem no Rio, em Petrópolis, Seropédica e em São Carlos, interior de São Paulo.

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LEIAM meu trabalho "Estórias cariocas acronológias" - Parte XVI.

NOTA DO AUTOR:

Ele, personagem real, um destaque na minissérie "Um só coração", 54 capítulos, de 6 de janeiro a 8 de abril de 2004, homenagem aos 450 anos de Sampa.

FONTES:

Rio, revista NÓS DA ESCOLA, ano 4, n. 40/06 --- "Brasileiros em Paris" - Rio, revista ELA, 25/11/18 --- "Minissérie retrata vida e enigmas de Santos Dumont" - Rio, jornal O GLOBO, 10/11/19.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 05/03/2020
Reeditado em 06/03/2020
Código do texto: T6881218
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