Típico chover...

Tarde de verão: chovia. A tempestade molhava todo o jardim. O alecrim agradecia. A lavanda. A hortelã. Bejide também. Olhava pela vidraça da biblioteca aquela imagem. Pensava nos sentimentos que o rodeavam, além disso, lembrara do café que tinha iniciado o preparo naquele dia quente. Foi lá terminar o que começara. Chovia. Sua xícara preferida era aquela cor creme que herdara de sua avó. De volta a biblioteca, repousou o olhar sobre o jardim: ali tudo agradecia a tempestade. De tanto chover, transbordou. O coração. A situação. Até mesmo o jardim.

A vidraça abria e fechava automaticamente com toda aquela ventania que entrava pela abertura central. A estrutura abalava com o tremor causado por aquele sentimento de angústia. A janela se fechou e a escuridão tornou-se única e expressiva. Tentou, mas não conseguiu. Chovia. Lá dentro, as palmeiras acompanhavam as correntes de ar e, por consequência, quase tocavam o solo.

Novamente a vidraça abriu e a luz retornou. Uma luz tão fraca que foi preciso acender. A xícara de café estava perto de seus lábios, mas o movimento foi interrompido pois chovia. A situação era essa: chovia. No jardim. No café. Na vidraça. Nas palmeiras. Na casa. E de tanto chover, adormeceu com a chegada da escuridão. Anunciada no início, era apenas mais uma típica tarde de verão.

Everton da Fonseca Nunes – xx/xx/xxxx