Finitude e Democracia

ERA um otimista, mas tinha os pés no chão e entendia que a vida era fugaz. Que a finitude do homem eram favas contadas, um fato irreversível. Por isso abominava a vaidade excessiva, os sonhos de grandeza, a prepotência, a mania de ser notável de marré-marré, aoi matéria ou bambambã. Não, não combatia a vaidade natural, o brio,a altivez e nem o desejo da pessoa se afirmar. Isso achava positivo. Mas era crítico veemente da tal superioridade babaca.

Sempre que se deparava com um desses panacas que se acham superiores, ria muito e lembrava um trecho do romance "Memórias de Adriano,de Marguerite Yourcenar:

"Meu caro Marco, Estive esta manhã com meu médico Hermógenes, recém-chegado à Vila depois de longa viagem através da Ásia. O exame deveria ser feito em jejum; por essa razão havíamos marcado a consulta para as primeiras horas da manhã. Deitei-me sobre um leito depois de me haver despojado do manto e da túnica. Poupo-te detalhes que te seriam desagradáveis quanto a mim mesmo, omitindo a descrição do corpo de um homem que avança em idade e prepara-se para morrer de uma hidropisia do coração... É difícil permanecer imperador na presença do médico e mais difícil permanecer homem".

Sim, pensou, a finitude é democrática. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 14/03/2020
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