Para vereador Boi Genovino, o bicho é bom mesmo!

Era os idos de mil novecentos de sessenta e tantos. A eleição estava pegando fogo. Prum lado os apoiadores da Família Abastada e pro outro da Família Fartura.

O povo admirava a riqueza destas famílias, pois achava tão difícil ter o o pouco que tinha, imagina ter o tantão que aquelas famílias possuiam.

O povo admirava as letras, o gente pra falar bonito. Impressionava e eles tão carente de palavra e de escrita.

As famílias pareciam diferentes entre eles, mas não eram muito não. Quem reparasse bem via mais semelhança entre eles que eles com o povo. Nada mudava qualquer família que ganhasse era a mesma coisa: o povo sempre perdia.

Andava nas ruas de terra um boi velho chamado Genovino. Era de raça misturada e ninguém sabia ao certo de que dono era. Manso que só carregava criança no lombo e comia os capins das ruas.

Sempre mugia ao passar pelas vizinhanças quando de gente boa e raspava o chifre no chão quando via gente ruim! O danado sabia quem prestava e quem não prestava.

Partia pra cima de homem batendo na mulher e socorria criança de cachorro doente querendo morder. Certa vez o boi fizera alarde, era madrugada ainda, com uma jararaca que se dependurava no portão da dona Neném no lugar certinho onde ela botava a mão pra destrancar a corrente.

Era um boi muito respeitado na região. Destes acompanhar cortejo de velório, respeitar procissão. Em dia santo não mugia nem fazia farra com os homens em boteco. O povo gostava muito dele.

Mas eram tempos de eleição. O boi que antes era quieto em relação a estes assuntos, começou a se irritar muito com políticos que visitavam a região. Encarando muitos e bufando pra outros, nao era raro colocar até alguns pra correrem.

Por medo de retaliação contra o bicho, o povo achou melhor prende-lo na porteira por algum tempo pra evitar seus desaforos. Mas de longe o boi acenava a cabeca em desaprovação aos políticos corruptos.

O povo achava graça, mas não entendia o recado que o boi queria dar. Venceram as eleições e em pouco tempo o povo começou a sentir o arrependimento no lombo.

Bem que o boi tinha razão, diziam alguns que se lembravam dos gracejos do boi. Alguns já diziam na brincadeira eleger o boi da próxima vez: não rouba, não visita a comunidade só em tempos de eleição e nunca nos pediu nada.

Tal história começou a se espalhar e ganhar fama entre o povo. Alguns políticos da capital o visitavam, aqueles que o boi aprovava ganhavam respeito do povo e os outros mais infelizes eram logo desmascarados e tocados pelo boi pra fora dali.

Aquele boi era uma verdadeira liderança entre aquela gente.

Alguns rejeitados por ele tramavam acabar com ele, mas o povo dificultava demais o intento. Então inventaram que o boi era comunista que havia sido treinado por esquerdistas para enganar o povo, o fazendo de trouxa.

O boi Genovino, verdadeiro vereador daquela gente, foi sendo excluído pelo povo. Voltou pros matos e roças mais afastadas. Enquantos os bodes interesseiros voltavam a chupar o sangue do povo que padecia sem instrução.

Não se teve muita notícia dele depois disto não. Dizem que andava pra bandas da Borda do Campo, outros dizem ter visto ele no Ribeirão das Neves ou pastando lá pro Registro das Abóboras.

O povo sentia falta dele. Diziam ele ser primo não muito distante do boi Soberano, raça afeita a justiça e cada vez mais sumida destes campos e cantos do Brasil.

A história? Não tem mais, era só isto mesmo. Era só um cadinho de prosa por que de tristeza temos muito e de alegria um poquinhizinho que a gente consegue já enche o coração de alegria!

Um boa noite proceis tudo!

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 17/03/2020
Reeditado em 17/03/2020
Código do texto: T6890204
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