Mariângela e as telas.

Mariângela tinha olhos enormes e sempre ficava à frente da tevê, a iluminar aqueles grandes olhos.

Dobrava os joelhos e encolhia-os junto a si em cima do sofá creme da sala de sua mãe.

E ficava vidrada.

Era terror, comédia, ação, romance, drama, épico, tudo quanto é gênero de filme Mariângela gostava.

Parecia tecer um mundo sobre aquilo. Sobre tudo quanto é vida, que o cinema construía.

Ela nem precisava de amigos.

E quando as luzes se apagavam, e o brilho fosco a contornava, ela inclinava levemente seu rosto para frente e mergulhava de vez na estória.

E um dia ela entrou... entrou naquele mundo e se tornou personagem, vivendo cada drama e cada estória e sentindo cada personagem como ela sempre desejou.

Viajou por tempos, lugares e viu pessoas diferentes.

E a cada novo filme que começava na tela ela seria um novo papel, sempre; ela nem pestanejava.

Mariângela, tão nova, ruiva, de cabelos amarrados, saindo de sua meninice, esbugalhou tantos seus olhos que virou personagem de cinema; levantou do sofá, esticou pernas e braços e mergulhou tela adentro, porque era ali que ela sabia que precisava viver.

Aline S Silva
Enviado por Aline S Silva em 10/10/2007
Código do texto: T689083
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