UM BREVE CONTO SOBRE
A REVOLUÇÃO DAS EMOÇÕES FAMILIARES
DIANTE DA COVID-19
 
 
  Repentinamente tudo mudou, logo cedo os pais saíam correndo para trabalhar e deixavam suas crianças na escola, agora todos ficam em casa ainda meio perplexos.   Tudo mudou também para os animais de estimação, pois um simples dia rotineiro dos pets foi afetado pela síndrome do medo Pandêmico, o velho costume dos fofuchos darem uma voltinha sozinhos e bem cedinho, pulando em árvores, muros e casas pela vizinhança nas manhãs, à tarde e à noite, ficou sinistro, eles não são mais os mesmos na rua, parecem bichos medonhos assustados e desconfiados por serem vistos como seres almofadados e portadores de COVID-19, ainda correm o risco de serem banidos do planeta.
 Quanto as crianças, andam bem estressadas, obrigada! Porque querem ir ao shopping no final de semana e comerem uma deliciosa pizza na praça de alimentação antes de assistir aquele filme desejado, mas a palavra de ordem agora é:  STOP, não pode, precisamos ficar em casa, está tudo fechado. O mais incrível é que em pleno e desértico Lockdown os garotos insistem em voltar para escola, devem estar com saudade da professora e dos coleguinhas, então ficam apelando para todos os lados desesperadamente para retornarem a vida ativa de aluno, tipo cano de escape, também não estão gostando, ou melhor, não estão adaptados a estudar na internet por ser um método muito novo e não funcional para alguns devido a necessidade da participação direta dos nervosos pais em seus estudos, essa presença forçada é delicada por causa do estado de espírito dos adultos, lembrando que na forma presencial, alguns garotos (as) não eram os booms nas notas por não prestarem atenção as explicações e ainda adoravam estar febris na hora de ir à escola para ficar em casa, também por sofrerem algum tipo de abuso emocional dentre outro fatores, mas o agravante é a imensa falta que uma Santa, uma Psicóloga, uma segunda mãe faz, estou falando da clamada e hoje reconhecida por suas medalhas de honras" A Professora", só ela como uma fada para levar e conduzir pessoalmente essa situação inusitada imposta pelos pequenos devido a paralisação e estes, por sua vez, recheados de dúvidas e rejeições. É de partir o coração vê aqueles olhinhos amendoados de clemência, enquanto os pais fazem entre eles uma espécie de roleta russa para saber quem ensinará as tarefas..
O mais incrível é que muitos pais silenciam e viajam em pensamentos, uma espécie de fuga do antigo Vietnã, afinal eles também são seres humanos e queriam estar cumprindo seus devidos horários em seus trabalhos, ou seja, idealizados paraísos em relação ao que estão vivenciando nos dias de hoje.
Entre debates do querer e não poder, logo o stress consegue cair, bem no meio, como um pará-quedas, o casal termina discutindo do nada e por nada, por causa de algum problema quase esquecido que aconteceu nas férias do natal retrasado, os pais começam a falar num tom mais alterado, uma comunicação de forma idiomática com xingamentos sem nexos.
 Para completar, os garotos que apesar de serem gêmeos descobrem também nesse exato momento que são inimigos"número um" de nascença e se não tiver alguém para interceder caem novamente na porrada, desta vez, a briga começou por causa da queda da internet que logo evoluiu para uma luta livre, entre socos e pontapés e gritos, pensando bem, se formos compará-los aos irmãos Caim e Abel da bíblia, os irmãos bíblicos perderiam feio.  Na verdade os pequenos não estão sabendo lidar com tantas frustrações, como o mau humor dos pais e a condição de concionamento, os pais por sua vez, não estão acostumados a ficarem em casa 24h por dia, com afazeres domésticos e ensinando as tarefas para as crianças que não se mostram interessadas por ouvirem tantas histórias de mortes no mundo inteiro, filas de caixões em todos os canais de comunicação e por falta de uma dinâmica familiar participativa entre responsáveis e seus filhos, pra completar as crianças ainda sofrem comparações com os filhos da vizinha que estão cumprido todos os horários, verdadeiros anjinhos executivos, rotulando os próprios filhos de incompetentes por não fazerem o mesmo reinando na plataforma da escola, mas cada um é cada um.  Acredito também que a família da vizinha deve estar mais participativa e receptiva com as tarefas dos menores, bebendo e destilando menos afirmações negativas e derramando nas cabecinhas dos filhotes para não gerar tantos impactos.
  Não podemos julgar os pais, eles também estão sofrendo, percebe-se nitidamente que os cabelos da mamãe agora estão sempre presos e um pouco desarrumados, seus olhos com olheiras profundas e parece que ela é uma bomba ambulante preste a explodir, principalmente quando vê que colocaram  louças na pia...  Quanto ao papai da família? Ele assisti alguns filmes diariamente no quarto ou então pesquisando e fazendo alguns trabalhos na internet, também andou lavando a louça e ajudou nos serviços caseiros. 
A secretária do lar faz alguns dias que não aparece e nem poderia, seria até perigoso durante a Pandemia e acho que seria mais seguro para ela voltar graduada em antropologia para acompanhar a forma de dialeto primitivo familiar que foi desenvolvido ultimamente durante a sua ausência, o dialeto funciona mais ou menos assim: perguntando a mesma coisa três vezes, a conversa poderá evoluir para uma guerra civil.
 Para desopilar liga a televisão, o medo aflora da COVID-19, o apresentador insiste em reafirmar que todo mundo vai morrer e proibe sair de casa e ao mesmo tempo dizem que podemos sair e retornar a logística diária, para as crianças, tanto faz, sair ou ficar, pois o termômetro confiável de sair são seus pais.    A pressão psicológica aumenta com tanta falta de informações e contradições de palavras negativas ou a insegurança das palavras positivas não confiáveis.
Os animais domésticos organizaram uma sinfonia própria, um motim e não param de miar mesmo dando toda a comida do mundo ou abrindo a porta para saírem para acalmarem, coitados,  os bichanos preferem ficar dentro de casa que serem caçados por desinformados lá fora.
Enfim, não existe certos ou errados no meio dos sobreviventes, afinal estamos procurando soluções, deixando claro que não são todas as famílias que estão passando por este desafio, este  processo doloroso de reafirmação, mas vale ressaltar que são muitas, só existe uma saída para evitar um surto coletivo familiar, chama-se Fé e perseverança, lembrar que amanhã será um novo dia, logo tudo isso passará, estamos apenas reaprendendo a lidar com nossos limites, nossas emoções e ao mesmo tempo redescobrindo o nosso convívio familiar que estava esquecido com a correria do dia a dia. Antes de deixar aflorar um novo conflito, respirar fundo com certeza será melhor para todo mundo, não vale a pena deixar fluir um clima negativo, só faz piorar a situação.  ainda dá tempo de repensar as práticas familiares e retomar o caminho e cada um tentar dar o melhor de si.  Precisamos proteger as nossa emoções e os sentimentos da nossa família, proporcionando o bem-estar geral.
Vamos tentar?
Esperançar é um verbo que nunca apagará.


Obs: Em vários países existem vários números de telefones disponíveis para ajudar as famílias atualmente, caso sua família esteja precisando  de ajuda, procure o telefone na sua cidade.
 


 
Rita Macedo
Enviado por Rita Macedo em 17/05/2020
Reeditado em 17/05/2020
Código do texto: T6949711
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.