EPÍLOGO

Primeiro veio o clarão, em seguida suas vistas ficaram turvas. As únicas coisas que conseguia distinguir eram os pontinhos brilhantes no céu, assim ela pensava. Sua vida passou diante de seus olhos, cada momento gravado naqueles pontos brilhantes ao qual denominamos estrelas. Sentiu uma imensa dor na cabeça, algo pegajoso escorreu em seu rosto. Sangue. Recordou cada momento bom, e ruim também. Da sua infância modesta à juventude rebelde. Cada página de sua história sendo contada naquele momento fugaz e derradeiro. Seus temores e arrependimentos, cada escolha errada, cada caminho não trilhado, tudo se compactava nos seus últimos suspiros; o desfecho de uma existência repleta de altos e baixos batia à porta, logo os anjos a envolveriam no eterno adeus, no sono do qual nenhum homem ou mulher fora capaz de despertar.

— Tudo vai ficar bem — ela ouviu alguém falando, talvez estivesse ouvindo as vozes do além.

Antes que o sobrenatural a levasse, teve tempo para mais um pensamento; sua doce filhinha, pobre criança, ficaria a esperar pela mãe que não retornaria para o seio familiar, nem para os afazeres domésticos. Vivera de maneira desleixada, não deu o amor que sua meiga menininha merecia, e de todos os seus suplícios, esse era o que mais a dilacerava. Murmurou um débil “Eu te amo”, e se entregou à inexistência. As cortinas se fecharam, a luz da vitalidade se apagou. Escuridão.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 21/05/2020
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