O PÃO QUE O DIABO AMASSOU
Rio de Janeiro - 1965.
Aninha era uma menina órfã no seu jovial sorriso de doze anos de idade que, à custa de grande dificuldade, terminou sendo uma empregada doméstica na casa de um casal libanês que ostentava grande riqueza e esplendor na sua imensa mansão frente ao mar do Leblon.
O patrão era do tipo que não se opunha a nada que sua esposa fizesse: quer fosse para o bem, quer fosse para o mal. Para ele, não lhe faltando seu desejado uísque, tudo estava absolutamente certo da parte dela.
Seus empregados trabalhavam das sete da manhã às dez da noite e folgavam um dia semanal e todos tinham o sacro dever de sempre que se dirigisse à sua arrogante patroa, chamá-la de madame antes de pronunciar o seu nome próprio, pois este seria um dos modos de enaltece-la frente a suas excêntricas visitas, que eram muitas, em volta a sua faustosa mesa de opulente requinte.
Aninha contentemente se interessava no aprendizado do serviço, mas se sentia muito mal com o rude tratamento que sua patroa dava a seus empregados, tais como: no final das fartas refeições da grande mesa, cabia a eles comerem, apenas, os sobejos. Isto contrariava Aninha ao ponto dela perder seu sorriso e reclamar dos maus-tratos ao cozinheiro, que, por sua vez, falou com a mordoma e esta reportou à patroa. Tudo isso terminou com a demissão de Aninha e de demais empregados por quererem cobrar suas dignidades.
Não haviam leis regulatórias e tudo era intransigente.