Luto por uma relação morta
Foi preciso um ano inteiro de luto. É estranho como uma conexão tão forte se desfez diante da distância de tempo e de lugar.
Ela surgiu na minha vida e fez a maior bagunça. Como um raio, ela iluminou tudo num clarão: foi luz e barulho, me acordou pra vida e depois me deixou no pasmo da descoberta.
Carreguei-a sobre os ombros durante muito tempo. Notei que ela estava fria e distante, indiferente a tudo. Ela me deixava exausto no final do dia, mas eu me recusava a aceitar que carregava o cadáver do que tinha sido uma relação.
Foi preciso largá-la onde a gravidade puxou mais forte. Foi preciso enterrar de vez algo que já morreu para continuar vivendo sem me cansar tanto. Foi preciso um ano inteiro de luto. E não, não há nada de triste nisso. Ela mesma me falou que um dia iria embora.
É preciso enterrar seus mortos e aceitar que nem os fantasmas deles virão matar a saudade nos assombrando. É preciso nos livrar das correntes que nos prendem em relações mortas. É preciso aceitar que ela já foi.