Beleza fluminense

O jogo acabou. A noite ficou mais escura para mim. Meu time lutou, empatou no tempo normal, mas no final, perdeu nos pênaltis. E que bela ironia, pois o que fazia minha tristeza, para ela era motivo de alegria. Eu estava longe, porém já sabia do seu (só seu) momento de alegria. Ela publicou uma foto no celular, vestida com as cores de seu time.

Toquei a campainha meia-hora depois. Caminhou escada abaixo, passou pela porta e chegou ao portão para me receber. Ao abrir, me deu a mais bela visão que eu poderia contemplar naquela noite, em que tudo deu errado para o meu clube na decisão do título.

Ela, ao contrário, torcedora do time adversário, estava feliz e exibiu um sorriso que desmonta qualquer esquema tático, não tem estratégia que resista àqueles olhos castanhos, fitando diretamente. É como tiro livre direto da marca do pênalti (ah, Rafinha filho da...). Ela jogou minha tristeza para escanteio.

Descalça (em casa, só anda assim), vestido do time sobre a pele clara a cobrir-lhe até metade das coxas. Nunca havia reparado que ela possuía pernas tão bonitas, 'torneadas', visão que tive quando ela subiu as escadas, à minha frente, guiando-me pelo caminho que eu trilhava de forma inédita.

Chegamos à sala, fui para o sofá, ela, à cozinha. Trouxe água e um lanchinho que preparara, já aguardando minha visita. E me zoou o quanto pôde, rindo muito, tirando sarro da desventura do meu time, que era considerado favorito.

Mesmo contrariado, não há como ficar triste diante de tanta beleza e alegria. Por vezes, nem dava tanta atenção às palavras, mas não perdi um gesto, um sorriso, um piscar daqueles olhos, um passar de mão nos loiros cabelos. As poucas horas passaram e tive de me despedir.

Fizemos o trajeto de volta. No portão, um abraço - eu na rua, ela no portão, um degrau acima, para ficar quase na minha altura. E, mais uma vez, uma sensação gostosa, aconchegante, e o cheiro da pele naturalmente perfumada. Nunca estive tão próximo dos belos olhos e de um sorriso tão lindo. Dois beijinhos no rosto, e fui embora, com vontade de não ir, mas fui.

Fui pensando como seria dormir com o calor daquele abraço e acordar, na manhã seguinte, testemunhando o primeiro sorriso dela... mas isso é outro sonho. O Earth, Wind & Fire (alarme do meu celular) acabou de tocar e me acordou desse.

O quê! Você achou que era verdade? Até ela enviar a foto, sim. O resto foi o sonho de quem vivera uma noite desanimadora, e tentava enxergar alguma beleza - e ela é linda mesmo, essa é outra verdade.

E vamos ao chuveiro!!

Bevê
Enviado por Bevê em 10/07/2020
Reeditado em 12/07/2020
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