MADRILENHA

Todo dia exatamente as dezessete horas ela estava a porta do Museu do Prado esperando pela entrada gratuita. Se a fila fosse longa ela voltava para casa, esta era sua rotina. Foram dias e dias na esperança de encontrar uma brecha para poder entrar no tão sonhado Museu do Prado.

Certa feita sentada a mesa de uma cafeteria degustando um chocolate quente com alguns amigos, ela percebe um jovem senhor bem vestido sentar-se na mesa ao lado. Sua atenção volta-se para aquele homem desconhecido, porém algo nele lembrava alguém de um passado distante. A conversa continua com seus amigos, mas sua cabeça está bem longe dali. De repente um de seus amigos faz lembrar sua dispersão deixando-a inibida perante os outros. Com esforço volta a conectar-se com o grupo, porém sua ansiedade a domina novamente forçando-a retirar-se do local indo em direção a mesa do estranho. Ao aproximar-se, o estranho sente seus olhos conectados com aquela mulher deixando-o um tanto desconsertado, afinal seus amigos perceberam tal olhar. Ela não se fez de rogada, sentando a mesa se apresenta a todos com os olhos direcionados ao jovem senhor, este oferece uma taça de vinho a bela visita

Após as devidas apresentações iniciam uma conversa em especial com aquele que lhe chamara a atenção. Entre uma taça de vinho e outra a conversa flui deixando-os à vontade para que o papo tomasse novos rumos. Se fizeram conhecer lembrando de um passado distante onde se conheceram no ateliê de um amigo comum aos dois. Velhas lembranças vieram à tona, belas risadas e olhares dissimulados completavam a felicidades de ambos, deixando seus amigos atônitos diante de tal situação, afinal não imaginavam tal desembaraço do novo casal.

Após todos se conhecerem e estarem entrosados, ela vem a saber que seu velho amigo é um dos expositores itinerantes daquele mês no famoso Museu. Ela aproveitando a deixa, fala de sua rotina diária para conseguir uma franquia de visitas após as dezoito horas, porém as imensas filas a fazem desistir do intento. Ele comenta que na próxima semana vai dar uma coletiva a imprensa a cerca de sua exposição e gostaria de ela estar presente, convite prontamente aceito. A emoção fora enorme, afinal seu sonho seria realizado, conhecer o famoso Museu do Prado. Ela que nascera e crescera no entorno de Madri nunca tivera a oportunidade de conhecer seu interior, pois muitos percalços aconteceram no seu caminho, agora chegara a hora.

No dia marcado, ela levanta-se cedo, banha-se demoradamente, coloca o seu perfume preferido, ou único talvez. Veste um lindo vestido preto permitindo este, visualizar a região sensual do joelho. Sua lingerie, bem com certeza ele iria descobrir seu tipo e sua cor. Calça um par de sapatos salto alto, coloca-se a frente do espelho a se maquiar, pois este dia seria especial. O interfone toca, é ele, pensa consigo, preciso me apressar para não atrapalhar seu compromisso. Apaga as luzes do vestíbulo seguindo em direção a porta. Ele todo sorridente a espera no carro com um leve som ambiente, deixando-a relaxada até o destino proposto.

Após a solenidade saem a visitar o Museu e cada espaço visitado ela se contagiava com o que via. Seu interesse pelas obras e seus criadores provocava admiração por parte daquele homem que a acompanhava. Quando estava por encerrar o horário de visitas, ele a convida para jantar com uma esticadinha ao seu ateliê, pois deseja que ela conheça suas últimas obras. Convite aceito rumaram para um fino restaurante na Calle Espalter 5, cozinhas Mediterrânea, Europeia e Espanhola. Terminando o jantar seguem para o seu ateliê vindo a consumiram uma garrafa de Marques de Caceres reserva 2000, vinho fino espanhol muito requisitado pelas pessoas conhecedoras de vinhos especiais.

A noite fora longa de muita luxúria, prazeres e confidências. Sentimentos represados, esquecidos e inexplicáveis, nesta noite foram assimilados, conectados, abrasados. A cada toque um suspiro, a cada beijo um deleite. Sussurros, abraços, roupas jogadas ao chão, lençóis úmidos de suor, tal qual Eros e Psiquê numa volúpia noite de prazer. Enquanto descansavam seus corpos fatigados, ela percebia com mais detalhes a beleza do seu rosto, neste momento ele acorda imaginando um dia ter sido traído por aquela mulher, mas logo percebera tratar-se de um sonho. Levantou-se, a beijou levando-a para um demorado banho em sua hidromassagem. O restante do dia fora para conhecer o ateliê e suas obras. A partir daquele dia a rotina mudara para a jovem madrilenha, pois os compromissos de seu amado exigiam estar sempre de malas prontas para uma próxima viagem...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 11/07/20

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 16/07/2020
Código do texto: T7007835
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