Em Um Tempo Remoto

Eric do Vale

Durante aula, ouvi alguém dizendo em alto e bom som:

-Lauro Corona morreu.

Era um colega meu, mas ninguém deu atenção ao que ele disse. Pudera, quem ali naquele jardim de infância, importava-se com aquilo? Acho que somente eu.

Em casa, dentro do quarto, escutei o meu pai dizendo para a minha mãe:

-Lauro Corona morreu.

Corri até a sala, onde os meus pais estavam, e acompanhei, pela televisão, o sepultamento dele.

A morte desse ator foi a notícia daquele dia.

Naquela ocasião, lembro-me também de que foi noticiado o lançamento de um filme publicitário referente a Aids e que contava com a participação de várias figuras do meio midiático como Xuxa, Renato Aragão, Chico Anysio, Lima Duarte e, dentre outros.

Esse comercial iniciava com o Zico dizendo: “Está na hora da gente virar o jogo contra a Aids” e encerrava com a frase do Ayrton Senna: “Juntos a gente ganha essa parada”. Adorava essa fala, por ser um grande admirador confesso desse piloto. Todo domingo, eu acordava cedo para assistir as corridas dele.

Passados alguns dias, perguntei a esse meu colega:

- Como você soube que o Lauro Corona morreu?

-A mãe dele me falou.

É claro que não acreditei e prossegui entrando no embalo da brincadeira :

-Você foi ao enterro dele?

-Sim.

-Eu também. A Glória Pires e o Alexandre Frota também estavam lá.

- Alexandre Garcia.

-Eu falei Alexandre Frota.

-Mas, o Alexandre Garcia também foi.

-Sim, é verdade! E o Ayrton Senna também.

-E Alexandre Garcia perguntou para ele: “Senna, você não está com vontade de ir ao banheiro ?”.

Nos divertimos muito com aquele diálogo, mesmo sabendo que tudo aquilo não passava de um mero absurdo.