UM DIA NA SELVA

Pé ante pé, descalço, caminho lentamente pela floresta. Todos os sentidos alertas. Minhas orelhas parecem se esticar com a concentração que faço para ouvir algo naquele silêncio. Meus olhos se estreitam tentando ver na penumbra do meio dia, onde, aqui e alí, um raio de sol consegue penetrar pelas copas das árvores.

Tudo parado. Nenhum som. Nem as cobras que sempre cruzam pelos meus pés ou os borrachudos que me enlouquecem ao penetrar na selva, estão comigo hoje.

Algo aconteceu, esse silêncio não prenuncia boa coisa, penso eu. Todos os meus sentidos são agora palpáveis.

Sinto um arrepio na nuca. Ando mais depressa, quase correndo, sem barulho. Um suor pegajoso começa a escorrer do meu rosto, logo minha camiseta está empapada. Mantenho o ritmo da corrida, um, dois, três quilômetros. Ainda falta muito para meu destino. Respiro pelo nariz, sem ruído. Subo, desço, desvio das árvores e de troncos caídos, pulo outros, atravesso fios de água, igarapés pela cintura ou a nado. Continuo correndo e, embora com os pensamentos no meu destino, os sentidos, por força do hábito continuam alertas, meus guardiões.

De repente, tudo vem abaixo com um barulho ensurdecedor, estanco e sorrio. Elas batem nas folhas com força e o som produzido é indiscritível, incomum.

Grandes, como nunca vi, são a gotas da minha primeira chuva na Selva Amazônica, no início do inverno de 1984.