C` Est Fini

Eric do Vale

Existem perguntas que nascem sem respostas ou não merecem ser respondidas, cheguei a essa conclusão baseado na lembrança da minha primeira bicicleta. Eu tinha cinco para seis anos, quando a ganhei de presente, no Natal. Ela era toda azul que, por sinal, é a minha cor preferida.

Depois que completei oito anos, os meus pais receberam uma irrecusável proposta de emprego em outra cidade.

Assim que nos instalamos, o meu pai ficou encarregado de voltar para pegar outros pertences que tinham ficado no lugar onde morávamos, inclusive a minha bicicleta.

Visto que haviam passados mais de três meses e ele não cumpriu com o que prometeu, resolvi cobrá-lo

-Aqueles moleques a quebraram. _ Disse o meu pai.

-Que moleques?

-Os filhos daquela..._ Referindo-se a irmã dele.

Nunca entendi o motivo dele sentir tanta raiva dela, como, ainda hoje, não consigo entender.

A única coisa que eu posso afirmar é que me deixei contaminar com aquilo e cheguei ao ponto de renegá-la, assim como o marido e os filhos dela. O tempo, entretanto, sempre foi muito sábio e convictamente digo isso, porque foram necessários vinte anos para chegar a um consenso.

Pouco antes de nos mudarmos, fui à casa de uma outra tia minha, onde estava a minha bicicleta. Resolvi pegá-la para dar uma volta nela, no momento em que fui surpreendido pelo meu primo, Wilsinho:

-Onde você pensa que vai?

-Vou dar uma volta com a minha bicicleta.

-Essa bicicleta é do meu irmão, Edson.

-Que história é essa?

Procurei a mãe dele, que também falou a mesma coisa. Eu, todavia, não dei muita importância, pois sabia, desde sempre, que eles tinham como robe cobiçar as coisas dos outros e dei uma volta nela, assim mesmo. Foi a última vez que andei nela. Por que o meu pai não me disse a verdade?